Covid: Especialistas explicam porque Amazonas vive caos mesmo com lockdown

Covid: Especialistas explicam porque Amazonas vive caos mesmo com lockdown

O Amazonas continua em caos com muitos casos de covid-19 e mortes pela doença. Mesmo com o toque de recolher no estado há 16 dias, o número de infectados ultrapassam mil diariamente. Dia 20, o Amazonas registrou 5 mil casos confirmados, o maior número de toda a pandemia.

Mas o que explica a alta taxa de transmissibilidade mesmo com o comércio fechado e o lockdown? Especialistas explicam que a demora em adotar medidas mais severas e a nova variante, de origem amazônica, contribuíram para que o caos na saúde continue.

Em entrevista ao Uol, especialistas explicaram que as taxas de transmissão e mortes deve demorar a estabilizar. "Quando se dá um passo depois do momento ideal, você já está com a circulação viral muito elevada para a população. É uma transmissão comunitária e difusa. Então o vírus já transitava com muita facilidade por toda a cidade de Manaus", disse o epidemiologista e pós-doutor na Escola de Saúde Pública de Harvard, António Silva Lima Neto.

"Às vezes você tem um isolamento que funciona muito bem em algumas áreas da cidade, mas, se ainda tem uma circulação que a gente chama granular, ou seja entre bairros, nos assentamentos precários, nas favelas; essa pequena movimentação permite que os poucos moradores que não estavam contaminados se contaminem", afirmou.

O epidemiologista também cita o contágio dentro das casas. "Alguém que tinha na casa passa para os demais, e aí o vírus circula ali por dentro, ou então pelo peridomicílio, pelos vizinhos. Isso tudo, associado com o fato de que você não tem mais vaga nos hospitais, você vai acumulando casos", disse.

O médico Ricardo Parolin, doutorando na Universidade de Oxford, disse que a demora em adotar o lockdown tende a retardar bons resultados. "Supondo que um lockdown superintenso tivesse sido aplicado no dia em que as coisas colapsaram, demorariam cerca de duas semanas só para notar um começo de queda nos novos casos confirmados. Até novas hospitalizações caírem demorariam mais umas outras duas semanas. E para mortes caírem demoraria mais uma ou duas semanas depois disso, usando os números que estamos acostumados de países europeus", disse.

"De qualquer forma é completamente fora da realidade esperar qualquer queda significativa nesses indicadores quando foram implementados posteriores ao colapso, de forma pouca intensa e por período tão curto", afirmou Ricardo.

O virologista Felipe Naveca, pesquisador da Fiocruz Amazônia, explicou que a dinâmica do coronavírus sempre leva em conta 15 dias anteriores. "Vamos pensar que, se você fechar hoje, até 15 dias para trás as pessoas já podem ter se infectado. Então não vai reduzir de uma hora para outra por conta disso. A gente tem que esperar uma ou duas semanas para que consiga ver uma uma queda verdadeira", disse ele.

O Amazonas vive uma segunda onda ainda pior que a primeira com alto número de casos e internações. Até esta sexta (29), 2.074 pacientes estavam internados e 7.793 óbitos confirmados.

Segundo o infectologista Marcus Lacerda, em entrevista ao jornal O Globo, a variante amazônica deve predominar o Brasil em cerca de um mês.

Ontem, o Governo do Amazonas informou que 91% dos casos de covid-19 em janeiro é por conta da variante chamada de P1. Vale lembrar que foi o Japão quem alertou o Brasil e o mundo no dia 10 de janeiro sobre a descoberta da variante originaria no Amazonas com alto poder de transmissão.