Pela 1ª vez, governo pede desculpas a quilombolas por Base de Alcântara

Pela 1ª vez, governo pede desculpas a quilombolas por Base de Alcântara

Esta também é a primeira vez que o Estado brasileiro é julgado em uma corte internacional em caso envolvendo comunidades tradicionais. As sessões aconteceram nessa quarta (26/4) e quinta na sessão itinerante da Corte na sede do Tribunal Constitucional do Chile, em Santiago. O Brasil é acusado de expulsar os quilombolas das terras que ocupavam historicamente.

Mais sobre o assunto

Compõem a delegação brasileira membros do Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), da Advocacia-Geral da União (AGU), dos Ministério das Relações Exteriores (MRE), da Defesa e da Igualdade Racial, do Comando da Aeronáutica e do Centro de Lançamento de Alcântara. O pedido de desculpas aos quilombolas foi encabeçado pelo MDHC.

“Queremos apresentar uma postura pautada pelo respeito às comunidades e suas demandas, mas que também dialogue com a necessidade de avanço tecnológico da região e que possa primar pelo diálogo, com o intuito de construir alternativas sustentáveis”, afirmou Rita Oliveira, secretária-executiva do Ministério dos Direitos Humanos.

“Uma postura que dialogue com as comunidades remanescentes de quilombos, seus direitos, garantias e respeito à tradicionalidade, além de enfatizar a importância dessas comunidades para o desenvolvimento socioeconômico do país”, continuou secretária-executiva do MDHC. Ela conta que os representantes do Poder Público pretendem dar destaque à atitude responsiva do Estado brasileiro.

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Grupo de trabalho

Nessa quarta-feira (26/4), o Palácio do Planalto instituiu um grupo de trabalho interministerial para buscar soluções para a demarcação de terras quilombolas em Alcântara. O Decreto nº 11.502 foi assinado pelo presidente em exercício, Geraldo Alckmin (Lula estava na Espanha), e publicado no Diário Oficial da União (DOU).

De acordo com o texto, o grupo vai propor alternativas para a titulação territorial das comunidades remanescentes que compatibilize os interesses dessas comunidades e os do Centro Espacial de Alcântara. Deverá também solicitar informações ao Programa Espacial Brasileiro sobre o resultado de trabalhos já realizados na região.

O grupo terá 120 dias para elaborar o ato normativo e deve concluir os trabalhos em até um ano, com a apresentação de relatório com indicação de diligências, discussões, consensos alcançados e propostas não consensuadas.

O GT terá a participação de vários ministérios e órgãos, e será composto por quatro representantes das Comunidades Remanescentes de Quilombos de Alcântara. A composição terá um representante dos seguintes órgãos:

  • Advocacia-Geral da União, coordenadora
  • Casa Civil
  • Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
  • Ministério da Defesa;
  • Ministério do Desenvolvimento Agrário e Agricultura Familiar
  • Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania
  • Ministério da Igualdade Racial
  • Ministério das Relações Exteriores
  • Secretaria-Geral da Presidência
  • Agência Espacial Brasileira
  • Comando da Aeronáutica
  • Fundação Cultural Palmares
  • Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra)

O julgamento

O secretário de Assuntos Multilaterais Políticos do Ministério das Relações Exteriores, Carlos Márcio Bicalho Cozendey, chamou a atenção para o fato de que o Brasil aceita a jurisdição da Corte Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) desde 1998.

“O que a Corte julgar, é um compromisso internacional do Brasil aceitar. As audiências da CIDH são importantes para que os juízes entendam qual é a situação das vítimas. Obviamente é uma situação complexa, difícil, em que efetivamente o Estado falhou em muitos aspectos, mas é preciso que tudo isso seja enquadrado dentro das regras dos pactos de direitos humanos existentes na região”, afirmou o secretário.

Ouvida na condição de declarante, Maria Luzia da Silva Diniz é uma das vítimas do reassentamento obrigatório realizado na década de 1980, que resultou na formação de uma agrovila. Durante a audiência, ela contou que as dificuldades incluíram a perda do território e a falta de acesso a serviços essenciais, como saúde e educação.

“Tiraram tudo da gente. A gente queria pelo menos ter uma vida digna, e isso não aconteceu lá”, lamentou. “Quando a gente ia buscar uma manga, tinha que ser em outro povoado, então isso é uma coisa que dói, porque antigamente tínhamos tudo, a gente não precisava passar por humilhação. Essa comunidade não tinha um pé de fruta, então a gente tinha que ir em outras comunidades para dar aos nossos filhos. É humilhante”, relatou.

Além de Maria Luzia, outra vítima do caso e uma testemunha foram ouvidas na quarta-feira. O julgamento continua nesta quinta-feira.

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