Lula resiste a pressões e quer esperar duas semanas para nomear ministros

Lula resiste a pressões e quer esperar duas semanas para nomear ministros

O mistério que chega a ser apontado por analistas como um dos motivos para a dificuldade na articulação da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição é visto por Lula como um benefício, afirmaram ao Metrópoles aliados que trabalham com ele no dia a dia.

O presidente eleito avalia que seu poder cresce à medida que ele resiste às pressões. O futuro chefe do Palácio do Planalto calcula que atender aos apelos para nomear logo ministros como os da Fazenda e da Defesa seria mostrar que ele está se sentindo emparedado.

Não faltam listas de nomes cotados para as pastas mais importantes, mas Lula avalia que segurar a decisão o deixa em situação mais confortável para um objetivo que considera mais importante: construir uma base parlamentar forte para o início de seu governo. Essa construção passa por negociar espaços e cargos que os partidos aliados terão no futuro governo, o que tem sido feito nos bastidores.

Partidos como União Brasil, MDB e PSD, por exemplo, estão articulando com Lula e seus aliados para ocupar pastas de destaque na Esplanada a partir de 2023. E o presidente eleito não quer entregar o que essas legendas estão pedindo antes de garantir o apoio delas este ano, na aprovação de uma versão da PEC da Transição que dê espaço fiscal para o próximo governo cumprir promessas e fazer investimentos.

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Membros da equipe de transição falam com a imprensaVinícius Schmidt/Metrópoles

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Deputado federal eleito Lindbergh Farias (PT-RJ)Vinícius Schmidt/Metrópoles

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Lula se reúne com representantes de centrais sindicaisBreno Esaki/Especial Metrópoles

Ex-ministro Fernando Haddad fala com à imprensa no CCBB diante de painel colorido antes de participar de reunião. Ele faz parte da equipe de transicao do governo eleito - Metrópolesfoto-fernando-haddad-participa-reuniao-transicao-pela-primeira-vez-ccbb-brasilia-29112022

Haddad, cotado para a FazendaIgo Estrela/Metrópoles

Publicidade do parceiro Metrópoles 2Imagem colorida mostra o político Geraldo Alckmin (PSB) - Metrópolesgeraldo alckmin ccbb transição

Vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB)Igo Estrela/Metrópoles

Jaques Wagner, membro da equipe de transição do governo Lula, dá entrevista ao sair do CCBB. Ele usa máscara branca e olha pro lado - Metrópolesfoto-jaques-wagner-equipe-de-transicao-da-entrevista-saida-ccbb-17112022

Jaques Wagner no CCBBRafaela Felicciano/Metrópoles

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Avanço na PEC da Transição

A resistência do Congresso em negociar a PEC vinha deixando nervosos os articuladores da transição, mas o clima mudou nesta semana, com a entrada de Lula em campo. Um dos membros da transição, o deputado federal eleito Lindbergh Farias (PT-RJ), disse na quarta-feira (1º/12) que a chegada do presidente a Brasília “mudou tudo” e devolveu ao governo eleito o protagonismo na negociação.

Com sinalizações de líderes partidários e presidentes das duas Casas do Congresso, vai ficando mais claro que está se construindo um consenso para que o governo Lula tenha permissão para financiar o Bolsa Família fora do teto de gastos por dois anos – metade do que o partido pediu – e que o montante a ser autorizado por ano para esse gasto fique em torno dos R$ 150 bilhões. “Se aprovar alguma coisa com menos de R$ 150 bilhões, irá acontecer o que está acontecendo, com universidades [públicas] parando”, avaliou ainda Lindbergh.

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A demora de Lula em confirmar os nomes de seus ministros também serve para que os nomes cotados sejam digeridos pelos políticos e agentes do mercado financeiro. É o que está acontecendo, por exemplo, com o ex-prefeito de São Paulo e ex-ministro da Educação Fernando Haddad, que é o nome mais falado para o Ministério da Fazenda.

Sem confirmar nem negar que vai colocar o aliado para comandar a área econômica, Lula já consegue medir como o nome seria digerido pelos diferentes atores sociais. Quem cobra do futuro governo um compromisso mais claro com a responsabilidade fiscal, por exemplo, gostaria de ver anunciado no cargo um nome de perfil mais liberal na economia e “menos petista”, mas o passar das semanas sem que outros cotados sejam falados vai fazendo com que o nome de Haddad vá sendo “precificado”.

Nem os aliados mais próximos de Lula, porém, garantem que alguma decisão já esteja tomada pelo petista. Não há dúvidas de que Haddad estará no governo, mas também há chances que, se não conseguir convencer o mercado de que será uma bom ministro da Fazenda, ele acabe em outra pasta, como a das Relações Exteriores.

Mais sobre o assunto

Como em 2002

A demora em definir sua equipe é uma tática já utilizada por Lula. Quando foi eleito pela primeira vez para a Presidência da República, em 2002, Lula também atormentou o mercado e o mundo político e só começou a anunciar ministros no meio de dezembro. A lista completa dos ocupantes da Esplanada dos Ministérios só foi informada aos brasileiros na antevéspera do Natal daquele ano, a pouco mais de uma semana para a posse.

Vinte anos depois, o petista mais uma vez joga com a expectativa.

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