Num certo palácio, a festa do amigo oculto

Num certo palácio, a festa do amigo oculto

Naquele palácio desenhado por um arquiteto comunista, com colunas “leves como penas pousando no chão”, eram treze as pessoas na última ceia do ano: o Messias de igarapé e seus doze áulicos, inclusive “aquele que haverá de me trair” (Marcos13: 13-31). A numerologia que explique o significado do número 13 em 2022. Aqui interessa saber o número que cada um sorteou.

– Comecemos pelo 1 – ordenou autoritariamente o Messias, depois de encher a pança com picanha e filé mignon.

O Bajulador, que era o primeiro, declarou servilmente: “É simples assim: um manda e o outro obedece”. Obediente, recomendou o uso de cloroquina, negou a eficácia da vacina, que causa aids, e retirou do ar os dados estatísticos para ocultar o número de mortos pela pandemia. Anunciou:

– Meu amigo oculto é um paraquedista que recebeu do ministro demitido do Meio Ambiente o apelido de “Maria Fofoca”.

Em seguida, entregou-lhe um embrulho. A galera gritou: – Abre! Abre! Lá dentro não havia cloroquina, mas vacinas contra a covid que foram negadas às pessoas sem oxigênio no Amazonas.
O “Maria Fofoca” tomou a vacina, escondido, para não contrariar o chefe, e proclamou:

– O meu amigo oculto é aquele que na campanha eleitora disse: “Se gritar pega centrão, não fica um, meu irmão”. Uma vez no poder, aliou-se com quem chamava de ladrão.

Entregou a ele o presente: um envelope com autorizações de exploração de ouro em área indígena na Amazônia. A galera imediatamente identificou o dito cujo, gritando seu apelido.

Augusto Veneno – esse era o apelido – revelou quem era seu amigo oculto: o comandante do “Meu Exército”, que politizou a farda e ameaçou impedir as eleições em 2022 se o Congresso não aprovasse o voto impresso.

– Dou-lhe de presente toneladas de filé mignon e picanha comprados com R$ 535 mil destinados ao combate à epidemia da covid-19 – disse Augusto Veneno montado no cavalo de Tróia.
Calabar – esse era o codinome do quarto da lista – justificou o mimo recebido:

– Filé mignon e picanha combatem o vírus melhor do que a vacina. Por isso, o meu amigo oculto, cardiologista, está protelando a vacinação de crianças entre 5 e 11 anos, já autorizada pela Anvisa, cujo técnicos foram ameaçados de morte por contrariarem ordens superiores.

Os olhares todos se voltaram para Queirodes, chamado também de “Pazuello de Jaleco” – um manda, os outros obedecem – que ganhou brinquedos infantis: maletas médicas para curar as crianças, cujos óbitos “estão absolutamente dentro do patamar”.

Queirodes – (nervoso, com medo da CPI da Covid) – Meu amigo oculto engoliu a violação do teto de gastos e a reforma da Previdência com manutenção de privilégios dos militares. Comemorou duas vitórias: empregada doméstica não viaja mais pra Disney e filho de porteiro sem financiamento do FIES não estuda mais na universidade. Com a gasolina a R$ 7,49, ele se tornou um Posto Ipiranga sem gasolina. Deixo pra ele uma offshore nas Ilhas Virgens Britânicas, para que fuja da tributação no Brasil.

O Posto Ipiranga Offshore, alcunha do sexto da lista, traçou o perfil do seu amigo oculto para adivinharem quem era: juiz probo que odeia roubalheira e, por isso, manteve a condenação de uma mulher presa em flagrante ao furtar em Boa Esperança (MG) 18 barras de chocolate e 89 caixinhas de chicletes avaliados em R$50, destinados à venda no sinal de trânsito. Votou a favor do marco temporal que pretende entregar as terras indígenas aos ruralistas e às mineradoras.

– Kássio Conká – gritaram todos. Ele se levantou e recolheu seu presente: um diploma de um curso de quatro dias que fez como ouvinte na Universidad de La Coruña da Espanha,
Kássio Conká – (ao longe, o fiofó de uma cotia assoviou) Hic culum cotiae sibilare – falou Conká em latinorum para demonstrar que conhecia leis. Em seguida, mostrou o jet ski, uma moto Harley Davidson e a Constituição rasgada – três regalos que deu a seu amigo oculto, para quem todos os olhos se voltaram com gritos de:

– Mito. Mito. Minto. Minto.

O Abominável – como era conhecido o Messias de igarapé – fez arminha com a mão e revelou que tinha muitos amigos nada ocultos. Em primeiro lugar, os três “Rachadinhas”: 01, 02 e 03, além do 04 a quem presenteou com uma mansão luxuosa no Lago Sul, avaliada em R$ 3,2 milhões, com 800 metros quadrados, suíte master, piscina, acabamentos em mármore e granito.

Em seguida, para mostrar que era tudo farinha do mesmo saco, ou como diria Conká: ejusdem farinae mandiocae paneirorum, destacou outros amigos a quem chamou pelos nomes e não por apelidos: Fabricio Queiroz e seus micheques: 27 depósitos totalizando R$89.000,00; o blogueiro Allan dos Santos, investigado em dois inquéritos do STF e Luciano Hang, o Véio da Havan, a quem deu de presente a nomeação de Larissa Dutra, diretora-presidente do Instituto Nacional do Patrimônio Histórico Nacional (IPHAN) para evitar o embargo de uma obra do Véio da Havan.

O Bajulador, que iniciou a brincadeira, ganhou um passeio de moto. O povo brasileiro ganhou a frase: “Brasil, três anos sem corrupção”, que provocaria uma gargalhada monumental se não existissem 620 mil mortos vítimas da gestão criminosa do combate à epidemia e as vítimas recentes das chuvas da Bahia.