Anitta: a patroa sabe ensinar a pensar, sim!

Anitta: a patroa sabe ensinar a pensar, sim!

"Eu não sei ensinar a pensar". A frase de Anitta no documentário "Made in Honório" (Netflix) é parte de um esporro daqueeeles que ela dá em sua equipe por não se sentir compreendida em suas ideias. Chefe, né? Você e eu sabemos como é.

A frase voltou quando ouvi "Loco", última música lançada por Anitta, ainda deitada na cama, sonolenta, na sexta (29), antes das 7h da manhã. Foi quando notei que meu quadril estava mexendo. Mesmo deitada, segurando um celular na mão, meu corpo entrou num movimento involuntário de rebolar. "Loco", pensei. E fui ver o que mais de conteúdo tinha na internet sobre a música que tinha possuído meu corpo naquela manhã.

Anitta aparecia nos stories do Instagram com algumas amigas em Aspen. Esquiando de dia, rebolando à noite. De biquíni. No momento em que eu derretia de calor em São Paulo e o Rio de Janeiro batia recordes com sensação térmica de 47ºC, Aspen, segundo meu iPhone, registrava mínima de -9ºC. E Anitta não reclamava de frio. Parecia se divertir dedicadíssima a "poner todo mundo loco". Olha aí meu quadril dando o ar da graça de novo. Lo-lo-lo-loco.

"Loco" faz parte da estratégia de Anitta para o mercado latino. O reggaetown bem sensual mistura inglês e espanhol numa letra que promete enlouquecer todo mundo "y romper pantalones". Em bom português, rasgar a calça dos homens de tanta excitação. Não duvido da potência dessa raba e de todo o conjunto da obra.

Anitta convidou modelos e cantoras para desfilar em trajes de banho pelo ponto turístico, no estado norte-americano do Colorado. Conteúdo para ninguém botar defeito —e mesmo que bote, vai clicar para o lado até o fim dos últimos 40 stories só para ver onde isso vai dar. Anitta sabe muito bem o que faz. Tudo que emoldura essa raba rebolante é hipnotizante.Num dado momento da diversão trilíngue da patroa com suas amigas, que também carregam milhões de seguidores, ela lembra as críticas que recebeu no lançamento de seu documentário. "Todo mundo falou que eu era sem paciência no filme, mas a verdade é que eu tenho muita paciência e ensinei todo mundo a esquiar com a maior calma do mundo", ela diz num espanhol impecável.

As aprendizes confirmam. Anita debocha em espanhol daquelas que só falam inglês.

E troca para o inglês. E troca para o português. E ainda explica que o lançamento da música é estratégico para o público gringo e, por isso, pode não agradar aos brasileiros. Mas vai ter mais música pensada para o Brasil, ela promete. Um seguidor reclama por ela não estar falando português, e ela explica de novo a estratégia de marketing e conta que de seus 51 milhões de seguidores, 30% é estrangeiro. Tudo muito embasado e pensadinho.

Patroa sabe o que está fazendo porque sua empresária estuda muito. Sua empresária é ela mesma.

O episódio dois do documentário, aliás, mostra a Anitta estudiosa. "Odeio dar opinião sobre aquilo que não sei, então vou estudar", ela diz. Se todo mundo copiasse, a gente não estava nessa draga que se tornou a internet. "Vai mais gente na festinha em Aspen?", pergunta um seguidor. "Estamos numa pandemia, não podemos aglomerar, mais gente do que isso não dá", ela explica. "Eu acho que é meu dever falar para as pessoas estudarem e entenderem o que estão fazendo com a nossa terra".

Eu só posso repetir e implorar: estudem para entender qualquer coisa, antes de sair falando por aí. Anitta está fazendo o que prega: a se notar pelos idiomas que fala tão bem, pela escolha acertada de suas parcerias, como faz as empresas Anitta girarem e entende perfeitamente bem o algoritmo em eterna transição. Não dá para parar de estudar.

Anitta só está errada em duas coisas. Primeiro, ela sabe, sim, ensinar a pensar. Olha a gente aqui falando de assunto sério enquanto ela parece estar apenas rebolando a bunda. Seu jeito certeiro de se tornar uma estrela mundial muda até o jeito de pequenos gestores lidarem com suas equipes e trabalho.

Segundo erro: o público brasileiro adorou Loco. Ih, olha lá meu quadril de novo, gente.