Bolsonaro diz que é preciso superar desequilíbrio 'em desfavor do Brasil' no banco do Brics

Dos 45 projetos de financiamento já aprovados pelo NDB, seis são brasileiros. Bolsonaro discursou ao lado de líderes do Brics, durante reunião do grupo, em [...]

Bolsonaro diz que é preciso superar desequilíbrio 'em desfavor do Brasil' no banco do Brics

Dos 45 projetos de financiamento já aprovados pelo NDB, seis são brasileiros. Bolsonaro discursou ao lado de líderes do Brics, durante reunião do grupo, em Brasília. Reunião de cúpula dos cinco líderes dos países que formam o Brics

Alan Santos/PR

O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (12) durante reunião de cúpula do Brics (grupo formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul) em Brasília que os cinco países devem trabalhar para superar desequilíbrios "em desfavor do Brasil" na carteira de financiamento do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB). O banco é uma iniciativa conjunta dos países que formam o grupo.

Entenda: Banco dos Brics

Dos 45 projetos de financiamento já aprovados pelo NDB, apenas seis são brasileiros. Somados, eles aportaram cerca de US$ 1,4 bilhão em áreas como logística, infraestrutura, transportes e sustentabilidade.

"O banco é um dos resultados mais visíveis do Brics e um aliado importante no esforço de garantir um adequado financiamento de infraestrutura sustentável. Os números mostram que é preciso trabalharmos juntos para superar o desequilíbrio em desfavor do Brasil na carteira de financiamento do NDB", disse Bolsonaro em encontro com líderes do conselho empresarial do Brics.

Os acordos foram fechados com o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Petrobras, Vale, União e os governos estaduais do Pará e do Maranhão. Outros dois projetos, ligados à prefeitura de Sorocaba (SP) e ao Porto de São Luís (MA), aparecem no site do banco como "em análise".

Além dos seis projetos brasileiros, o NDB já aprovou sete projetos da Rússia, sete da África do Sul, 12 da Índia e 13 da China. A partir do próximo ano, os países do Brics estudam abrir a carteira de financiamento a países que não compõem o grupo.

Criado em 2014, o Novo Banco de Desenvolvimento tem capital previsto de US$ 50 bilhões, dividido igualmente entre os cinco países do Brics. A cada ano, as nações aportam US$ 1 bilhão para compor o patrimônio. Na prática, cada governo é "dono" de 20% do NDB.

Bolsonaro lembrou que caberá ao Brasil indicar o próximo presidente do banco, que terá um escritório regional em São Paulo, com uma representação em Brasília. A expectativa do presidente é a de que a abertura do escritório regional impulsione financiamentos a projetos brasileiros.

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'Curva de aprendizagem'

Na quarta (13), durante os debates do Fórum Empresarial, o presidente do Novo Banco de Desenvolvimento, K. V. Kamath, chegou a comentar a desigualdade de financiamento.

Segundo ele, a "curva de aprendizagem" para lidar com os diferentes governos foi uma das causas da disparidade.

"A nossa meta é fazer empréstimos equilibrados para que todos os cinco países tenham o mesmo acesso aos financiamentos. China e Índia tinham projetos mais bem preparados, já analisados pelos seus governos", declarou Kamath.

"No Brasil, tivemos que aprender a lidar com prefeituras, estados. Esse tipo de demora, de aprendizado, atrasou o processo um pouco. Já passamos da curva de aprendizagem e estamos mais acelerados." O presidente do NDB disse que, para os próximos anos, o banco deve redirecionar o foco para os parceiros privados.

Segundo Kamath, neste setor a tendência se inverte, e projetos brasileiros, russos e sul-africanos podem levar vantagem.

"Acho que em 2020, todos verão o equilíbrio sendo atingido. Levou dois anos para aprendermos, mas vamos chegar lá."

Na mesma mesa, o ministro da Infraestrutura, Tarcísio Gomes de Freitas, reconheceu as dificuldades do Brasil, mas disse esperar boas notícias no próximo ano.

"Não adianta ter o banco (NDB) em projetos de energia, onde o risco associado é absorvido pelo próprio mercado. Precisamos do banco onde o mercado não absorve o risco. (...) Tenho certeza de que a gente vai contar, a partir de agora e cada vez mais, com a presença do banco no financiamento e outras modalidades de suporte, como as garantias", disse o ministro.

Reformas

Bolsonaro afirmou no discurso que a presidência de turno brasileira no Brics "privilegiou a busca de resultados concretos, que gerem efeitos positivos para a sociedades dos países membros".

O presidente disse que o Brasil estimulou a aproximação entre o conselho do Brics e o banco do bloco para que fosse possível identificar as demandas do empresariado.

Bolsonaro ainda destacou que manterá sua política de buscar "recuperar a economia nacional por meio da desestatização, do investimento privado e de uma ampla agenda de reformas". Segundo ele, as ações favorecem o equilíbrio fiscal e a melhora do ambiente de negócios.

O presidente ainda reforçou o compromisso de levar adiante as reformas do Brasil. Seu governo conseguiu aprovar no Congresso a reforma da Previdência, apresentou uma reforma do pacto federativo e pretende enviar uma reforma administrativa nas próximas semanas.

"Asseguro aos integrantes do Cebrics, em particular aos empresários brasileiros, que seguirei pessoalmente empenhado em reerguer nossa economia, levando adiante reformas de que o país precisa", afirmou.

Bolsonaro discursa na sessão plenária da cúpula do Brics

Discursos dos demais líderes

Vladimir Putin, presidente da Rússia

O presidente da Rússia afirmou que a reunião com representantes do conselho empresarial é um instrumento útil para o bloco. Ele ressaltou a necessidade de financiar projetos nos países e de aumentar projetos financiado nas moedas locais.

Putin se disse disposto a levantar mais recursos em rublos, moeda russa, para o banco do Brics. O presidente ainda apontou que deseja ver o banco abrir novas agências, dando como exemplo a inauguração de um possível escritório em Moscou em 2020.

Putin elogiou as operações da instituição, com financiamento de grandes obras de infraestrutura em seu país.

"As operações do novo banco fizeram uma avaliação muito positiva do banco. Acho que todos concordarão que ele fez muito para trazer o banco para um nível de atuação altíssimo", disse.

"Subiu de 12 para 49 projetos aprovados só na Rússia, inclusive, alguns muito importantes envolvendo petroquímica, hidroelétricas, projetos que se destinam a melhorar o fornecimento de água potável, construção de novos edifícios", listou.

Putin destacou o trabalho do conselho empresarial do Brics na busca por projetos. "É muito importante para estimular novos projetos, melhorar a qualidade dos projetos e por isso apoiamos trabalho de grupos temáticos do conselho empresarial", afirmou.

Ele disse que, na presidência rotativa do bloco, dará apoio ao conselho e ao banco. Putin lembrou que a próxima cúpula do Brics será em São Petersburgo e convidou autoridades e empresários.

Xi Jinping, presidente da China

O presidente da China afirmou que o banco do Bricse o conselho empresarialdo bloco são importantes para o financiamento e lançamento de novos projetos. Ele repetiu as críticas ao protecionismo nas relações comerciais.

"Unilateralismo e protecionismos estão se torando mais fortes, representa novos desafios para todos os países", disse.

Xi Jinping disse que as ferramentas de investimentos do bloco, como o banco, podem ampliar as parcerias na área de transformação digital. Ele deseja a ampliação da abertura dos mercados, bem como o desenvolvimento com "tecnologia verde".

"ONovo Banco de Desenvolvimentopode ter um papel importante na forma de oferecer apoio financeiro e intelectual. Espero que preservem o espírito Brics de abertura, inclusão e inovação", afirmou o presidente chinês.

Segundo ele, no último ano, o fórum do bloco priorizou as perspectivas de longo prazo dos negócios e promoveu cooperação em diferentes áreas, como manufatura, energia, aviação regional, capacitação e economia regional.

"Os resultados têm sido bem grandes nessas nove áreas. O NDB de sua parte vem operando de forma tranquila, incorporando novos projetos, melhorando mecanismos e avançando na criação de agencias regionais", disse.

O presidente declarou que espera apoio para incentivar novas políticas nos países e com prioridade em "grupos mais vulneráveis", bem como nos "retornos econômicos e a responsabilidade social".

Narendra Modi, primeiro-ministro da Índia

O primeiro-ministro disse que o conselho empresarial e o banco do Brics "surgiram como instrumentos em prol de cooperação prática entre países" do bloco.

"Nossos sonhos de fortalecer a cooperação econômica intra-Brics só podem se concretizar com apoio do conselho e do banco Brics", afirmou.

Modi propôs elaborar um mapa de trabalho para a próxima cúpula do Brics, a fim de ter um caminho para alcançar meta de US$ 500 bilhões de comércio dentro do bloco.

Ele defendeu identificar áreas de complementariedade entre as economias dos dois países, apostar em novas tecnologias no agronegócio e buscar aumento do atendimento na área de saúde.

Modi ressaltou que os cinco países têm espaço para investimentos de infraestrutura, o que poderá ser financiado pelo banco do Brics.

"Nossas econômicas têm grande necessidade de financiamento para infraestrutura e acredito que NDB pode oferecer apoio valioso nesta área", afirmou.

Cyril Ramaphosa, presidente da África do Sul

O presidente sul-africano destacou que concorda com o apoio de projetos por parte do banco do Brics para outros países, além dos cinco integrantes do bloco, a fim de dar "escala global" à instituição financeira até 2021.

Ramaphosa apontou a "necessidade" de dobrar "esforços" para investir na indústria de transformação e a importância dos países do Brics apostarem em negócios no continente africano.

O líder também disse que é preciso se concentrar em um crescimento "equilibrado" dos países do bloco. Ele disse que a África do Sul se preocupa com um crescimento que alcance áreas mais pobres das cidades e do campo.

"Precisamos nos concentrar num crescimento compartilhado e equilibrado com cada um dos países", afirmou.

Ramaphosa também incentivou apoio entre governantes e setor privado para impulsionar a economia dos países diante do ambiente adverso na economia mundial.

"Em um ambiente de crescimento mais lento, onde política monetária e fiscal ficam limitadas, atores públicos e privados precisam colaborar para apoiar o crescimento", disse.