Aproximação com Maduro causa mal-estar e atrapalha planos de Lula em unir continente

A questão da Venezuela eclipsou os esforços do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para promover a integração dos países sul-americanos em torno de objetivos comuns.

Aproximação com Maduro causa mal-estar e atrapalha planos de Lula em unir continente

Um dia antes da cúpula dos chefes de Estado, na segunda (29/5), Lula recebeu Maduro para um encontro bilateral no Palácio do Planalto e minimizou as denúncias de violação dos direitos humanos na Venezuela. Para o presidente brasileiro, Maduro e seu regime seriam vítimas de uma “narrativa” sobre ausência de democracia.

Veja:

A defesa aberta de Lula ao venezuelano incomodou parte dos presidentes convidados para o encontro do dia seguinte. A voz mais dura a se levantar contra o discurso do brasileiro foi a do presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou, que transmitiu pelo Instagram as críticas a Lula feitas em reunião fechada no Palácio Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores do Brasil.

Lacalle Pou não chegou a citar o nome de Lula, mas disse que ficou “surpreso quando se falou que o que acontece na Venezuela é uma narrativa”.

“Todos já sabem o que pensamos a respeito da Venezuela e ao governo da Venezuela. Agora, se há tantos grupos no mundo que estão tratando de mediar para que a democracia seja plena na Venezuela, para que se respeitem os direitos humanos, para que não hajam presos políticos, o pior que se pode fazer é tapar o sol com um dedo”, disse o presidente uruguaio, que é de centro-direita.

Veja:

O outro presidente a levantar a voz contra a fala de Lula, porém, é de esquerda, como o brasileiro: o chileno Gabriel Boric. Na mesma reunião que tinha apenas os chefes de Estado do continente, Boric afirmou que é “impossível fazer vista grossa para as violações de direitos humanos na Venezuela”.

Apesar de ter dito ser positiva a presença de Maduro em organismos multilaterais, Boric disse que não se pode “colocar para debaixo do tapete ou fazer vista grossa sobre assuntos que são de princípios importantes” e que manifestou “respeitosamente uma discordância com o que o presidente Lula disse ontem, de que a situação de direitos humanos na Venezuela é uma construção narrativa. Não é uma construção narrativa, é uma realidade, é sério”, salientou.

As falas de Lacalle Pou e Boric fizeram pesar o clima na reunião e esfriaram a ideia de Lula de reviver um organismo multilateral entre os países sul-americanos como foi a Unasul, vigente em seus mandatos anteriores e sepultada definitivamente na gestão de Jair Bolsonaro (PL).

Presidente Lula discursa apos encerramento da Reunia?o com Presidentes da America do Sul no Palacio do Itamaraty 2

Presidente Lula durante evento no Itamaraty Vinícius Schmidt/Metrópoles

presidente do Chile, Gabriel Boric durante reunia?o de Presidentes dos Paises da America do Sul, com a participac?a?o do Senhor Presidente da Republica Luiz Inacio Lula da Silva, no Palacio do Itamaraty 7 presidente do Chile, Gabriel Boric durante reunia?o de Presidentes dos Paises da America do Sul, com a participac?a?o do Senhor Presidente da Republica Luiz Inacio Lula da Silva, no Palacio do Itamaraty 7

Presidente do Chile, Gabriel Boric Hugo Barreto/Metrópoles

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Hugo Barreto/Metrópoles

Imagem colorida mostra Nicolas Maduro chega para encontro de Lula com presidentes sul-americanos - Metrópoles Nicolas Maduro chega para encontro de Lula com presidentes sul-americanos

Nicolas Maduro chega para encontro de Lula com presidentes sul-americanos Hugo Barreto/Metrópoles

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Maduro e Lula Igo Estrela/Metrópoles

presidente da Venezuela, Nicolas Maduro ao lado do presidente Lula, saindo do palacio do Itamaraty apos almoc?o realizado um dia antes da reunia?o com os presidentes dos paises da America do Sul 5

Igo Estrela/Metrópoles

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Hugo Barreto/Metrópoles

Reunia?o ampliada do Presidente Lula com o Presidente da Republica Bolivariana da Venezuela, Nicolas Maduro no brasil brasilia palacio planalto 13

Nicolás Maduro (Venezuela) e Luiz Inácio Lula da Silva (Brasil) Hugo Barreto/Metrópoles

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Lula não volta atrás

A polêmica em torno da Venezuela se tornou o principal assunto de uma entrevista coletiva que Lula concedeu a jornalistas brasileiros e estrangeiros ao final da reunião de cúpula, já na noite de terça. Na ocasião, Lula não mostrou arrependimento e tentou valorizar as críticas dos presidentes do Uruguai e do Chile como naturais.

“Ninguém é obrigado a concordar com ninguém”, disse Lula.

“Houve muito respeito com a participação do Maduro. Os que fizeram críticas as fizeram no limite da democracia”, avaliou o presidente brasileiro, que voltou a usar a palavra “narrativa” para classificar as críticas ao regime venezuelano.

“Todo mundo sabe o que eu falo e todo mundo sabe o que eu penso. Em política, toda vez que você quer destruir um adversário, a primeira coisa que você faz é construir uma narrativa negativa dele”, disse Lula.

Ele citou a expressão narrativa também para se referir ao ex-presidente venezuelano Hugo Chávez (já falecido), padrinho político do próprio Maduro, que foi vice no último mandato de Chávez e o substituiu na presidência.

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O incômodo de presidentes com o discurso de Lula sobre Maduro não impediu que todos os presentes aclamassem uma carta com um texto comum sobre a reunião de cúpula.

Entre os nove pontos estabelecidos no documento chamado “Consenso de Brasília” está o que fala sobre comprometimento dos países com a democracia e os direitos humanos.

Esse trecho diz que os países “reafirmaram a visão comum de que a América do Sul constitui uma região de paz e cooperação, baseada no diálogo e no respeito à diversidade dos nossos povos, comprometida com a democracia e os direitos humanos, o desenvolvimento sustentável e a justiça social, o Estado de direito e a estabilidade institucional, a defesa da soberania e a não interferência em assuntos internos”.

Outro resultado da cúpula foi o estabelecimento de um grupo de trabalho com os ministros das Relações Exteriores de todos os países presentes. Eles terão 120 dias para debater ideias sobre a integração do continente com o objetivo de levá-las para uma nova reunião de cúpula com os chefes de Estado. Nesse próximo encontro, a previsão é de que eles possam votar nessas ideias.

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