Sob Bolsonaro, Brasil ganhou 1,6 mil lojas de armas e munições

Sob Bolsonaro, Brasil ganhou 1,6 mil lojas de armas e munições

Os dados foram obtidos pelo Metrópoles por meio de pedido via Lei de Acesso à Informação (LAI). As informações provêm do Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma), mantido pelo Exército Brasileiro.

Em dezembro de 2022, o Brasil contabilizava 3.209 empresas autorizadas pelo Exército a comercializarem os produtos. Os militares, porém, afirmaram não ter a informação de quantos estabelecimentos estavam ativos nos anos anteriores.

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Desde que assumiu a presidência do Brasil, em janeiro de 2019, Bolsonaro assinou o Decreto 9.685, que facilitou o acesso a armas de fogo no país. Apesar de alterar o Estatuto do Desarmamento para facilitar a posse, o porte de armas não foi incluído na modificação. Em maio do mesmo ano, porém, Jair assinou o Decreto 9.785, ampliando a lista de profissionais que poderiam portar o artifício Marie Kazalia / EyeEm/ Getty Images

Porte e porte de arma. Homem usando calça caqui e camiseta preta segurando uma arma de fogo na cor preta em uma das mãos- Metrópoles***Foto-arma-de-fogo-porte-e-posse

Com o decreto, qualquer pessoa pode conseguir a posse de armas no Brasil. Contudo, nem todos podem portar o artifício. Em outras palavras, é possível adquirir, registrar e manter uma arma guardada em casa. Por outro lado, andar armado nas ruas somente é liberado para pessoas que tenham profissões específicasWestend61/ Getty Images

Publicidade do parceiro Metrópoles 1Porte e porte de arma. Pessoa com uniforme da polícia segurando uma arma de fogo na cor preta em uma das mãos- Metrópoles***Foto-arma-de-fogo-porte-e-posse

O artigo 6º da Lei 10.826/2003 permitia o porte de armas apenas para agentes de segurança pública, seguranças de empresas públicas e privadas ou membros do exércitoJulian Elliott Photography/ Getty Images

Porte e porte de arma. pessoa segurando uma arma de fogo na cor preta em uma das mãos- Metrópoles***Foto-arma-de-fogo-porte-e-posse

O decreto assinado por Bolsonaro, porém, incluiu ainda caçadores, colecionadores, conselheiros tutelares, oficiais de justiça, advogados, agentes de trânsito, jornalistas da área policial, atiradores desportivos e motoristas de transportadoras, por exemplo, no grupo de pessoas que podem ir além de suas residências portando armamentoDejan Markovic / EyeEm/ Getty Images

Publicidade do parceiro Metrópoles 2Arma de fogo em cima de uma mesa de madeira- Metrópoles***Foto-arma-de-fogo-porte-e-posse

Quem se encaixa nas características do porte de armas precisa registrar as munições no Sistema de Gerenciamento Militar de Armas (Sigma), do Exército, órgão responsável pela fiscalização dos artifíciosTetra Images/ Getty Images

Porte e porte de arma. Pessoa segurando uma arma de fogo na nas mãos em um campo- Metrópoles***Foto-arma-de-fogo-porte-e-posse

Mas não é tão simples quanto parece. Apesar de poder portar consigo o armamento municiado, CACs só o podem fazer quando estiverem indo a um clube de tiros, a exposição de acervos ou competições. No caso da utilização para caça, deve-se respeitar as normas de proteção à fauna e flora, da legislação ambientalYves Adams/ Getty Images

Publicidade do parceiro Metrópoles 3Arma de fogo em cima de uma mesa de madeira- Metrópoles***Foto-arma-de-fogo-porte-e-posse

Para o cidadão comum que se enquadre no rol de residentes de áreas rurais ou urbanas com elevados índices de violência, donos de comércio e profissionais da área de segurança, a posse de até quatro armas dentro da residência é permitida, e as munições precisam ser adquiridas por meio do Sistema Nacional de Armas (Sinarm), órgão regulamentado pela Polícia FederalAlan Majchrowicz/ Getty Images

Porte e porte de arma. pessoa segurando uma arma de fogo na cor prata em uma das mãos- Metrópoles***Foto-arma-de-fogo-porte-e-posse

É importante ressaltar que apesar de pessoas comuns terem o direito à posse de armas, elas não podem deixar a propriedade onde moram portando o artifícioskaman306/ Getty Images

Publicidade do parceiro Metrópoles 4Arma de fogo em cima de uma cama com lençóis brancos- Metrópoles***Foto-arma-de-fogo-porte-e-posse

Especialistas afirmam que, embora haja a flexibilização da lei, a posse de arma em residências é, na verdade, um risco para os moradores. Para tentar se precaver, portanto, Bolsonaro incluiu no decreto que “na hipótese de residência habitada também por criança, adolescente ou pessoa com deficiência mental deve-se apresentar declaração de que na casa há cofre ou local seguro com tranca para armazenamento”Image Source/ Getty Images

Porte e porte de arma. Pessoa segurando uma arma de fogo na nas mãos em o que parece um estúdio de tiro- Metrópoles***Foto-arma-de-fogo-porte-e-posse

Segundo a Polícia Federal, além dos requisitos informados, para adquirir o porte de arma, o interessado deve ser maior de 25 anos e entregar, de forma física, o comprovante de pagamento da taxa de expedição em uma unidade da PF. O valor, no entanto, dependerá de quem está realizando o pedido (pessoa física, empresas, agentes de segurança etc). O documento que autoriza o porte do armamento tem validade de até 5 anosGrant Faint/ Getty Images

Publicidade do parceiro Metrópoles 5Armas de fogo em cima de uma mesa de madeira- Metrópoles***Foto-arma-de-fogo-porte-e-posse

Atualmente, revólveres (calibre 22, calibre 36 e calibre 38), pistolas (calibre 32, calibre 22 e calibre – 380), espingardas (calibre 20, calibre 28, calibre 36, calibre 32 e calibre 12), rifles (calibre 22) e carabinas (calibre 38) podem ser compradas dentro da leiEmily Fennick / EyeEm/ Getty Images

Porte e porte de arma. pessoa segurando uma arma de fogo na cor preta em uma das mãos- Metrópoles***Foto-arma-de-fogo-porte-e-posse

Para adquirir uma arma de fogo é necessário desembolsar de R$ 2 mil a R$6 mil, tirando os gastos obrigatórios que fazem parte do requerimento da Polícia Federal e demais custos extrasMongkol Nitirojsakul / EyeEm/ Getty Images

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No Brasil, a força controla o comércio do setor. Dessa forma, os comerciantes precisam de autorização prévia para atuar. E necessitam comprovar idoneidade por meio da apresentação dos antecedentes criminais registrados na Justiça.

Além disso, é necessária a formulação de plano de segurança do estabelecimento, em que conste, por exemplo, medidas de controles de acesso de pessoas ao local em que se encontram os materiais e medidas de segurança contra roubos e furtos.

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Política armamentista

Na análise do membro do Conselho do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Roberto Uchôa o crescimento no número de estabelecimentos está relacionado às medidas de flexibilização do acesso a armas de fogo adotadas na gestão do ex-presidente. “Não foi apenas um afrouxamento da legislação. O próprio governo federal se comportava como estimulador da compra de armas”, afirma.

Por meio da flexibilização empreendida por Bolsonaro, atiradores puderam ter acesso a 60 armas e até 180 mil munições por ano. Antes, a quantia se limitava a 16 armas e 60 mil projéteis. Além disso, armas que eram limitadas ao uso das Forças Armadas, como fuzis, tornaram-se acessíveis aos Caçadores, Atiradores e Colecionadores (CACs).

“Há um grande aumento no número de lojas e não há um investimento em melhoria da fiscalização, não há um aumento no orçamento da fiscalização e não há melhoria nos sistemas de controle. Ou seja, há uma extensão no mercado, com uma menor fiscalização”, afirma o especialista Roberto Uchôa.

No mesmo sentido, o pesquisador em segurança pública da Universidade de Brasília (UnB) Welliton Maciel pontua que as lojas de armamentos e munições fazem parte de uma cadeia de comércio beneficiada nos últimos anos. “Desde o industrial ao comerciante de armas, há um percurso de negociações que vinham sendo construídas dentro e fora da politica”, afirma.

“Houve um certo beneficiamento de quem quis adquirir armas de forma rápida, prática e fácil. Os procedimentos foram flexibilizados de uma forma oficial, mas não tão controlada”, descreve Maciel, também pesquisador do Grupo Candango de Criminologia.

Horizonte de mudanças

O pesquisador da UnB observa que o governo Bolsonaro adotou uma política que delegou às pessoas o cuidado com a própria segurança. “Diante da ineficiência do sistema de segurança pública, o presidente insuflava a população para que ela se armasse”, afirma Wellinton Maciel.

Diante da derrota de Bolsonaro nas Eleições de 2022 e a consequente mudança da política de acesso a armas de fogo no Brasil, Roberto Uchôa projeta que o mercado tenderá a sofrer perdas nos próximos meses, o que deve englobar lojas de armas, fabricantes e clubes de tiro.

Promessa de campanha do então candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT), uma das primeiras medidas da nova gestão foi conter o avanço da pauta armamentista de Bolsonaro. Em 1º de janeiro, Lula assinou decreto que estringiu o acesso a armas e munições e suspendeu o registro de novos equipamentos de uso restrito de CACs.

Em 1° de fevereiro, uma portaria do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) determinou que todas as armas deveriam ser cadastradas no Sinarm em até 60 dias. Nesta quinta-feira (16/2), o ministro Flávio Dino afirmou que vai manter o prazo de 60 dias para recadastramento.

“Nós queremos dialogar com todo mundo. Estamos abertos a ouvir argumentos razoáveis, menos o de liberou geral. Acabou o liberou geral de armas de fogo no Brasil”, defendeu o ministro em coletiva de balanço sobre sua gestão.

O Metrópoles questionou o MJSP se estuda medidas para revisar os registros concedidos novas empresas que vendem armas e munições. A pasta, no entanto, não respondeu até o fechamento da matéria. O espaço segue aberto para futuras manifestações.

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