Governador da BA: Lula continua a falar de Bolsonaro porque 8/1 exige
No segundo domingo do ano, bolsonaristas inconformados com o resultado eleitoral invadiram e depredaram as sedes dos Três Poderes, causando prejuízos milionários aos cofres públicos. Na ótica de Rodrigues, os atos terroristas ocorreram porque Bolsonaro “cultivou o ódio nas pessoas”.
“A eleição terminou em outubro, no dia 30. Veio novembro, dezembro, a posse. Nós já havíamos começado em um ambiente de "desestressar" a pauta política”, disse Jerônimo em entrevista ao Metrópoles na noite de sexta-feira (27/1), horas após a reunião do presidente com os chefes dos governos estaduais, em Brasília.
“Quando é dia 8 acontece o que aconteceu, manipulado por um ex-presidente que cultivou o ódio nas pessoas. Não dá para a gente esquecer o dia 8. Se não tivesse acontecido o dia 8, a gente não poderia esquecer o passado de quatro anos, mas não seria tão prejudicial para a gente”, prosseguiu o governador.
“Então, quem estiver sentindo qualquer situação de constrangimento por esse motivo, vai ter que continuar sentindo por um momento, porque a gente não resolveu essa situação”, concluiu. O governo federal e aliados defendem que as investigações cheguem aos financiadores dos atos de 8 de janeiro e que os envolvidos sejam devidamente responsabilizados.
Brasília (DF) 27/01/23. Entrevista com o governador da Bahia, Jeronimo Rodrigues. Fotos: Wey Alves/Especial MetrópolesBrasília (DF) 27/01/23. Entrevista com o governador da Bahia, Jeronimo Rodrigues. Fotos: Wey Alves/Especial MetrópolesBrasília (DF) 27/01/23. Entrevista com o governador da Bahia, Jeronimo Rodrigues. Fotos: Wey Alves/Especial MetrópolesBrasília (DF) 27/01/23. Entrevista com o governador da Bahia, Jeronimo Rodrigues. Fotos: Wey Alves/Especial MetrópolesBrasília (DF) 27/01/23. Entrevista com o governador da Bahia, Jeronimo Rodrigues. Fotos: Wey Alves/Especial MetrópolesBrasília (DF) 27/01/23. Entrevista com o governador da Bahia, Jeronimo Rodrigues. Fotos: Wey Alves/Especial MetrópolesBrasília (DF) 27/01/23. Entrevista com o governador da Bahia, Jeronimo Rodrigues. Fotos: Wey Alves/Especial MetrópolesBrasília (DF) 27/01/23. Entrevista com o governador da Bahia, Jeronimo Rodrigues. Fotos: Wey Alves/Especial Metrópoles0Reunião com governadores
Lula recebeu na última sexta, no Palácio do Planalto, os chefes dos 26 estados e do Distrito Federal. Na ocasião, ele recebeu propostas de obras e investimentos específicas de cada Unidade Federativa e outras compartilhadas pelas regiões do país.
A principal demanda levada pelo conjunto dos governadores foi a necessidade de recomposição das receitas que deixaram de ser arrecadadas com a isenção do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) sobre combustíveis, determinada pela gestão anterior dentro de um contexto eleitoral.
Em resposta ao pleito, o governo Lula instituiu uma comissão, liderada pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para os governadores acompanharem a discussão da compensação do ICMS no Supremo Tribunal Federal (STF).
Na reunião com Lula, o grupo ainda assinou a Carta de Brasília, documento que firma um pacto federativo pela democracia. A fim de fortalecer o diálogo entre estados, municípios e União, presidente e governadores também decidiram criar um Conselho da Federação, de caráter permanente, com o objetivo de “definir uma agenda permanente de diálogo e pactuação em torno de temas definidos como prioritários pelos entes federados”.
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Governadores saudaram a iniciativa do petista de se reunir com todos os Executivos locais, depois de quatro anos em que Bolsonaro deu prioridade àqueles com que guardava afinidade ideológica. Ao chegar ao Planalto, o governador reeleito do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), adversário do PT, reconheceu a ação: “É importante saudar e destacar essa iniciativa de chamar os governadores. De fato, nos quatro anos passados não houve um chamamento aos governadores como está sendo feito agora. Isso tem que ser valorizado e destacado”.
“Sedento de diálogo”
Para Jerônimo Rodrigues, Lula sinaliza para uma união nacional: “A gente estava sedento de diálogo. O Brasil estava apartado. Tinha uma Presidência e os estados e os municípios largados. O Lula traz com essa iniciativa dele um compromisso de diálogo, de concertação de agenda”.
O aliado de Lula minimizou o constrangimento de sentarem à mesa com governadores tidos como bolsonaristas, como Tarcísio de Freitas (Republicanos), de São Paulo, e Jorginho Mello (PL), de Santa Catarina.
“É claro que tem constrangimento, porque até dois, três meses atrás nós tínhamos um cenário de disputa eleitoral. O que o Lula está dizendo? "Nós já descemos do palanque. Já acabaram as eleições. O que a gente quer é um país unido, um país de paz. Nós vamos destruir o ódio"”.
O “climão” com Zema na reunião entre Lula e os governadores
Para o baiano, o movimento do presidente Lula “não é de perseguir ninguém”. “Quem está sentado ali, está entendendo que temos um pacto. As pessoas que foram contra o Lula e estão ali é porque o estado as elegeu. Então nós temos que respeitar a população daquele estado. E o Lula está fazendo isso.”
Filiado ao PT desde a década de 1990, Jerônimo Rodrigues assumiu secretarias nas gestões dos também petistas Jaques Wagner, hoje líder do governo no Senado, e Rui Costa, atual ministro da Casa Civil. Ele também assumiu cargos de segundo escalão em Brasília, durante o mandato de Dilma Rousseff. Ao ocupar o Palácio de Ondina, ele dá prosseguimento aos 16 anos em que o PT governa o estado.
Sem cavalo de pau
“São 16 anos de um projeto. A gente não pode dizer que vai dar um cavalo de pau e mudar, porque nós temos um alinhamento”, defendeu. E ponderou: “Nós não podemos fazer mais do mesmo constantemente. Não é um governo de continuismo, é de continuidade. Nesse aspecto, nós temos que inovar”. Em linha com o presidente da República, Rodrigues defendeu como marcas de sua gestão o combate à fome e a geração de emprego.
Em sua primeira eleição, o petista derrotou o ex-prefeito de Salvador ACM Neto, do União Brasil, em uma disputa acirrada no segundo turno. Sobre a aproximação do governo federal com o partido de seu adversário, o governador baiano fez questão de separar as coisas.
“Quem está vindo é o União Brasil, e está vindo num cenário nacional. É o Lula que dirige isso. Não tem o que criticar, é movimento nacional. No estado, o União não vai sentar à mesa nossa [no governo da Bahia]”. O União Brasil tem três ministérios: o do Turismo, com Daniela Carneiro, o das Comunicações, com Juscelino Filho, e o da Integração e Desenvolvimento Regional, com Waldez Góes (este último filiado ao PDT, mas da cota do União).
Governando um importante reduto petista, Jerônimo Rodrigues afirmou que agora é preciso “correr a Bahia de novo para poder garantir governabilidade” a Lula.
A Bahia será justamente o segundo estado a ser visitado por Lula no contexto de uma agenda nacional de entregas. O petista vai ao município de Santo Amaro no dia 14 de fevereiro, para entregar casas pelo restaurado programa Minha Casa Minha Vida.
Governador indígena
Jerônimo Rodrigues é o primeiro governador autodeclarado indígena. Ao frisar a responsabilidade, ele afirmou: “Você não pode ficar no discurso. Eu vou ter que trabalhar muito para fazer uma compensação. Agora como o Lula cria o Ministério dos Povos Originários, nós criamos lá [na Bahia] uma Superintendência com status de secretaria. E nós vamos fazer um alinhamento muito forte. Estamos aguardando o que o Lula vai oferecer de programa para esses povos”.
“Durante a campanha eu não coloquei aquilo para ser um elemento agregador de voto. Foi natural da minha autodeclaração”, afirmou. Em 2022, o opositor ACM Neto se autodeclarou pardo e gerou polêmica ao utilizar fotos em que aparecia com um tom de pele mais escuro.
Raio-x
Jerônimo Rodrigues tem 57 anos e é indígena do município de Aiquara, cidade localizada no sul da Bahia. Engenheiro agrônomo e professor da Universidade Estadual de Feira de Santana, ele é filiado ao PT desde a década de 90.
Na Bahia, foi secretário de Desenvolvimento Rural (2015-2019) e da Educação (2019-2022), ambos na gestão de Rui Costa. Também exerceu cargos federais em Brasília, tendo sido secretário-executivo do Ministério do Desenvolvimento Agrário.
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