Atos terroristas travam negociações de cargos no 2º e 3º escalões do governo

Atos terroristas travam negociações de cargos no 2º e 3º escalões do governo

“Nós nem ainda terminamos de montar o governo, porque até agora foi indicada pouca gente. Nós estamos num momento de fazer uma triagem profunda, porque a verdade é que o Palácio [do Planalto] estava repleto de bolsonaristas e de militares”, afirmou Lula em café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto, na última quinta-feira (12/1).

Aliados preteridos em ministérios, PV, Solidariedade, Pros e Avante reivindicam espaço em órgãos e autarquias federais, mas as negociações emperraram nos últimos dias em razão das repercussões aos atentados, em uma semana que foi dominada por agendas repletas de simbolismos e início de investigações criminais para responsabilizar os terroristas.

Essas siglas ainda enfrentam a concorrência tanto de outros partidos de esquerda com maior prestígio, como o PSB, quanto de partidos do Centrão, os quais o PT ainda busca fidelizar.

As quatro legendas estiveram com Lula já na campanha, mas ficaram sem ministérios para que o presidente pudesse contemplar bancadas maiores e garantir governabilidade no Congresso Nacional.

Com poucos parlamentares eleitos, as siglas passaram, então, a negociar espaço no segundo e terceiro escalões, em cargos que também podem render dividendos eleitorais e garantir controle orçamentário robusto.

Mais sobre o assunto

Por enquanto, só o PV conseguiu conquistar um espaço, com Leandro Grass (DF) na chefia do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), anunciado na última terça-feira (10/1). A sigla ainda pretende ser contemplada com outros postos.

Paulinho da Força, presidente do Solidariedade, também tem pressionado, depois de não ter tido sucesso na eleição de 2022. Ele esteve com o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) no dia 3 de janeiro para tentar acelerar as tratativas, mas o martelo ainda não foi batido.

Após não atingirem a cláusula de barreira, Solidariedade e Pros caminham para uma junção. O processo de incorporação do Pros pelo Solidariedade aguarda o retorno do Judiciário para formalização.

“O Pros esteve na coligação do presidente Lula por convicção e ainda hoje, mesmo sem espaço no governo, tem certeza de que foi a melhor opção para o Brasil, principalmente para preservar a democracia”, pontuou Felipe Espirito Santo, presidente da Fundação da Ordem Social, ao Metrópoles.

“A agremiação está com disponibilidade e vontade de contribuir com o governo e não tem constrangimento em falar que tem interesse em ocupar algum cargo. Contudo, não há imposição”, prosseguiu ele. “O partido entende que os aliados de primeira hora devem ser valorizados, mesmo ciente de que a governabilidade é prioridade. Sendo assim, natural que partidos com maior representação no Congresso estejam na vanguarda da composição ministerial.”

O Avante, partido do deputado André Janones (MG), que exerceu papel fundamental na campanha digital de Lula, ainda não recebeu nenhuma sinalização. Segundo a coluna de Igor Gadelha, o partido teria pedido quatro cargos no segundo escalão.

Outro nanico, o Patriota reivindicou dois espaços. Depois de brigar pela filiação de Bolsonaro em 2022, o Patriota ficou neutro na disputa eleitoral.

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), participa de reunião com o deputado federal André Janones (MG)Lula e André Janones

Em agosto de 2022, Janones abriu mão de sua candidatura e selou o apoio do Avante ao PTFábio Vieira/Metrópoles

Da esquerda pra direita: vice-presidente do Solidariedade, Jefferson Coriteac, deputado federal Ze Silva (MG) e presidente do Solidariedade, Paulinho da Força visitaram o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) - Metrópolesfoto-vice-presidente-jefferson-coriteac-deputado-ze-silva-e-paulinho-da-força-visitam-vice-presidente-alckmin-brasilia-03012023

Vice-presidente do Solidariedade, Jefferson Coriteac (E), deputado federal Ze Silva (MG) e presidente do Solidariedade, Paulinho da Força (D) visitaram o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) no dia 3/1Reprodução/Instagram

Publicidade do parceiro Metrópoles 1Lula tira selfie com o pré-candidato e deputado distrital Leandro Grasss, no acampamento indígena Terra Livre. Ambos sorriem - Metrópolesfoto-lula-tira-selfie-com-deputado-e-pre-candidato-leandro-grass-acampamento-indigena-terra-livre-12042022

Lula com o ex-deputado distrital Leandro Grass, do PV. Grass foi o candidato da federação PT/PCdoB/PV ao Governo do Distrito Federal em 2022Reprodução/Twitter

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Grass ficará na presidência do IphanReprodução/Instagram

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O PV elegeu no ano passado seis deputados federais; Solidariedade, quatro; Pros, três (com a junção ficarão com sete); Avante, sete; e Patriota, quatro. No Senado Federal, essas cinco siglas não conseguiram eleger nenhum representante.

A cobiça do Centrão

Enquanto os partidos nanicos buscam recompensa pelo apoio já fornecido, o apetite do Centrão só cresce. Lula já mostrou disposição para acomodar partidos de centro e direita, como PSD, Republicanos, PP e PL. Próximas de Bolsonaro, essas siglas ainda estão longe de se colocarem como governistas.

Cobiçado pelo Centrão, o Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), autarquia vinculada ao Ministério da Educação, saiu das mãos de um indicado pelo bloco e passou para o comando de uma técnica (a ex-secretária da Fazenda do Ceará Fernanda Pacobahyba). O ministro da Educação, Camilo Santana (PT), teria resistido ao assédio do bloco pela autarquia que possui orçamento bilionário.

A Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf) — empresa pública que ficou em evidência após revelação de que parlamentares do Centrão despejavam valores do orçamento secreto para obras e compra de maquinário — ficou sob o guarda-chuva do Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, comandado por Waldez Góes.

O atual presidente da Codevasf é Marcelo Moreira, apadrinhado pelo líder do União Brasil na Câmara, Elmar Nascimento (BA). No cargo desde agosto de 2019, ainda não se sabe se Moreira vai permanecer na função para contemplar ainda mais o União. Elmar chegou a ser cotado para um ministério, mas críticas recentes feitas por ele a Lula e ao PT inviabilizaram sua nomeação.

Também sob a alçada do Ministério da Integração estão a Superintendência do Desenvolvimento do Nordeste (Sudene), o Departamento Nacional de Obras Contra as Secas (Dnocs) e o Banco do Nordeste.

A Sudene é atualmente comandada por um general, Carlos César Araújo Lima, que foi secretário parlamentar. O Dnocs atualmente é dirigido por Fernando Marcondes de Araújo Leão, indicado por Sebastião Oliveira, deputado do Avante de Pernambuco e candidato a vice-governador do estado na chapa derrotada de Marília Arraes (Solidariedade).

Já o Banco do Nordeste é comandado hoje por José Gomes da Costa, apadrinhado pelo presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto.

Contemplado com três ministérios, o PSB pode ficar com o comando da Sudene ou do Banco do Nordeste, com o ex-governador de Pernambuco Paulo Câmara (PSB).

Outras estatais já foram garantidas para o PT, como é o caso da Petrobras, com o senador Jean Paul Prates (RN), e da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), que deve ficar com lideranças do PT de São Paulo.

Na área ambiental, os presidentes do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) e do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) ainda não foram indicados, mas estão cotados para deputados não reeleitos do PSB. Os dois órgãos ambientais responsáveis pela fiscalização foram desmontados na gestão Jair Bolsonaro (PL) e deverão ganhar um foco mais intenso no governo Lula, que promete tratar a agenda ambiental de forma transversal.

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