Mudanças climáticas: periferias são as mais afetadas em épocas de chuva

Mudanças climáticas: periferias são as mais afetadas em épocas de chuva

O avanço das mudanças climáticas é agravado pela liberação de gases de efeito estufa provenientes dos países mais ricos, como os Estados Unidos e a China. No outro lado da moeda, as nações mais pobres sofrem as consequências.

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Chuvas torrenciais e inundações deixaram o Paquistão submerso e provocaram mais de 1,2 mil mortes apenas neste ano, segundo o Alto-comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (Acnur). O país é responsável pela emissão de 1% de todos os gases de efeito estufa liberados no mundo.

É por essas razões que ambientalistas defendem a chamada “justiça climática”. De acordo com o advogado do Greenpeace Brasil e do Observatório do Clima, Paulo Busse, a justiça climática refere-se à garantia de um meio ambiente seguro a toda a população e uma responsabilização daqueles que mais contribuem para o agravamento das mudanças do clima.

“Então, a justiça climática tenta fazer com que os mais responsáveis pelas emissões de gases do efeito estufa, que geram a mudança climática, paguem. Países, regiões e pessoas que mais contribuem com a mudança climática devem pagar pelos danos causados às pessoas que menos têm culpa”, defende Busse.

Busse explica que a população em situação de vulnerabilidade social é a mais afetada pelas mudanças climáticas causadas pelo desmatamento, emissão de gases e contaminação do solo decorrentes de atividades econômicas no mundo.

“Pessoas que estão no topo de empresas são uma minoria no planeta, mas geram um impacto muito maior em termos de emissão. Além disso, afetam uma maioria que não participa nem dessas dessas atividades nem dos lucros dessas atividades.”

Tragedias climáticas no Brasil

De janeiro a junho deste ano, 495 pessoas morreram em todo o país em decorrência das chuvas, segundo levantamento realizado pela Confederação Nacional de Municípios (CNM). O número apresenta uma alta de 27% de todas as vítimas registradas no Brasil em comparação com 10 anos atrás.

As mortes foram provocadas principalmente por deslizamentos de terra e afogamentos durante chuvas torrenciais que afetaram todo o Brasil durante o ano de 2022.

O levantamento do CNM mostra que a cidade mais vulnerável é o município de Igarassu, em Pernambuco. A cidade possui uma estimativa de 119.690 habitantes e um PIB per capita de R$ 22.720,23, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A população que reside em situação mais precária e próxima às regiões de morros e de matas são as mais vulneráveis para os desastres ambientais no Brasil.

O aumento crescente dos moradores dos grandes centros urbanos brasileiros e a falta de moradias adequadas faz com que as comunidades morem em aglomerados subnormais.

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Não é novidade a ocorrência de tragédias provocadas por tempestades no Brasil. Embora o grande volume de chuva não seja atípico no país, principalmente na Região Sudeste, alguns estados ainda sofrem com deslizamentos de terras e alagamentosLuciano Belfort/Especial Metrópoles

Na imagem colorida, uma árvore está caida sobre veiculos e imoveis***chuvas-fortes-no-rio-de-janeiro-ultimos-12-anos

Segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM), só entre 2017 e janeiro de 2022, as chuvas já causaram inúmeros prejuízos aos cofres públicos, além das tragédias familiaresDivulgação

Publicidade do parceiro Metrópoles 1Na imagem colorida, lama está em cima de casas e arvores***tragedia-chuva-forte-brasil-2

No início de 2022, chuvas intensas atingiram diversas regiões de São Paulo e causaram desmoronamentos, alagamentos, deslizamentos de terras e a morte de sete crianças e 14 adultos. Segundo o governo do estado, a tragédia ainda deixou 500 mil famílias desabrigadas ou desalojadasDivulgação/Prefeitura de Franco da Rocha

Na imagem colorida, uma rocha está desabando sobre lanchas em um rio***tragedia-chuva-forte-brasil

Também em 2022, intensas chuvas causaram o rompimento do dique da barragem da Mina de Pau Branco, localizado no município de Nova Lima, Minas Gerais, e fez com que grande bloco de pedra se desprendesse de cânion do Lago de Furnas, localizado em Capitólio, e atingisse lanchas turísticas. Quatro embarcações foram atingidas e duas delas afundaram com o impacto. Ao menos 10 pessoas morreram e dezenas ficaram gravemente feridas Reprodução/ Vídeo

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Em fevereiro de 2022, chuvas intensas atingiram a região de Petrópolis, no Rio de Janeiro, e causaram desmoronamentos, alagamentos e deslizamentos de terras. Pelo menos, 152 pessoas morreramLuciano Belfort/Especial Metrópoles

Na imagem colorida, lama está em cima de casas e arvores***tragedia-chuva-forte-brasil-1

Em dezembro de 2021, fortes chuvas causaram inundações em diversas regiões da Bahia. De acordo com a Defesa Civil do estado, os temporais deixaram mais de 20 mortos e pelo menos 3,7 mil pessoas desabrigadasFacebook/ Reprodução

Publicidade do parceiro Metrópoles 3Na imagem colorida, um trem do metro está dentro da água***tragedia-chuva-forte-brasil-4

Em 2020, fortes chuvas atingiram o litoral paulista, deixaram 45 mortos por deslizamento de terra e dezenas de famílias sem moradia. Além de civis, dois bombeiros que ajudavam no resgate das vítimas também morreram soterrados. Essa foi considerada uma das maiores tragédias do estadoFábio Vieira/Especial Metrópoles

Na imagem colorida, pessoas estão espalhadas pela fotografia***tragedia-chuva-forte-brasil-5

Em 2019, intensas chuvas causaram deslizamentos nas cidades de Recife, Lima, Abreu e Olinda, em Pernambuco. Cerca de 1,6 mil pessoas ficaram desabrigadas ou desalojadas e 11 foram mortas. Uma jovem grávida de 8 meses estava entre as vítimasDivulgação/ Prefeitura de Camaragibe

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Em 2011, a chuva na Região Serrana do Rio de Janeiro causou a morte de ao menos 900 pessoas. A tragédia foi considerada a maior catástrofe natural do paísReprodução/ TV Globo

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Durante o Réveillon de 2010 em Angra dos Reis, no Rio de Janeiro, ao menos 53 pessoas morreram soterradas devido a intensas chuvas na regiãoReprodução TV Globo

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Em 2008, temporais tomaram 60 municípios de Santa Catarina e deixaram mais de 150 mortos vítimas de soterramentos ou enchentes e ao menos 80 mil pessoas desalojadasReprodução/ TV Globo

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Um dos maiores alagamentos registrados no Brasil aconteceu em Petrópolis, no Rio de Janeiro, em fevereiro deste ano, quando 238 pessoas morreram em decorrência dos deslizamentos e alagamentos causados pelas fortes chuvas que atingiram a cidade.

As fortes chuvas de fevereiro atingiram principalmente casas de pessoas que vivem em situação de vulnerabilidade social no Morro da Oficina.

Nos últimos dias, o Brasil tem passado por grandes acidentes causados pelas chuvas. No Paraná, por exemplo, um deslizamento de terra na BR-376 arrastou 15 carros, seis caminhões e deixou duas pssoas mortas, além de feridos.

O estado da Bahia também foi atingido por chuvas torrencias que deixaram 227 pessoas desabrigadas e 3.564 desalojadas.

A diretora executiva do perifaConnection, Thuane Nascimento, afirma que as mudanças climáticas são causadas por agentes, mas os mais afetados pelas alterações do clima são as populações mais carentes e em situação de vulnerabilidade.

“As casas de um lugar, de um lugar normalmente de área nobre, de ricos, de brancos, são feitas de forma que mitiguem [os desastres naturais]. O problema é que as casas não vão cair, não vão alagar e os lugares da periferia, dos pobres e dos negros, não têm essa mesma atenção”, explica Thuane.

Combate à injustiça climática

Para o advogado do Greenpeace Brasil e do Observatório do Clima, Paulo Busse, é necessário que os governos e instituições internacionais criem dispositivos para responsabilizar os maiores emissores de gases do efeito estufa e que o dinheiro seja revertido para melhorias para comunidades em situação de vulnerabilidade social. “Basicamente de forçar quem é mais responsável a arca os danos causados para quem é menos responsável”, declara Paulo Busse.

Thuane Nascimento defende que para combater as injustiças climáticas é importante que os governos comecem a combater os privilégios e se atentem às injustiças sociais, a falta de moradia e infraestrutura das periferias brasileiras.

“Para mudar os sistemas de privilégios para reorganizar a forma como nossa sociedade é vista porque por enquanto a sociedade sempre se atenta muito mais mitigar os problemas que os ricos têm nos territórios e não os pobres”, explica Thuane Nascimento.

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