Economia impõe 1ª crise a Lula, e transição tenta segurar expectativa

Economia impõe 1ª crise a Lula, e transição tenta segurar expectativa

A interpretação do mercado, de que Lula (PT) dissociou os compromissos sociais dos fiscais, levou a um tombo na Bolsa e alta forte no dólar na quinta-feira (10/11). Desde então, a equipe de transição organizou uma operação para apagar o incêndio, lembrando o compromisso do petista com metas fiscais em seus governos anteriores e garantindo que haverá essa preocupação na gestão que começa em 2023.

A estratégia funcionou parcialmente na sexta (11/10), com a Bolsa se recuperando um pouco e o dólar caindo, mas não a ponto de equilibrar as perdas do dia anterior.

A instabilidade, porém, está contratada para os próximos dias, pois o que os donos do capital financeiro cobram a transição não está disposta a dar ainda: nomes e compromissos da equipe econômica que vai substituir o ministro da Economia, Paulo Guedes.

A ordem na equipe de Lula é declarar que haverá compromisso fiscal em equilíbrio com a necessidade de transferir renda para a população mais pobre. Quanto a nomes, a orientação é esperar, pois a montagem da equipe como um todo está ligada a negociações maiores, que incluem a busca por uma base parlamentar mais sólida.

O entendimento dentro da equipe é de que anunciar nomes muito cedo pode ampliar o descontentamento de setores que não se sentirem contemplados.

O máximo que os aliados de Lula estão oferendo é dizer quem não vai ser ministro. Na sexta, o ex-ministro Guido Mantega, de quem o mercado não gosta por ter sido responsável pela Fazenda no governo de Dilma Rousseff (PT) em um momento turbulento, disse para a GloboNews que não vai assumir nenhum cargo no terceiro governo Lula.

A nomeação dele para a transição foi um dos motivos para o nervosismo do mercado na quinta, mas outro discurso que os lulistas têm repetido é de que quem está na transição, em regra, não será ministro.

O presidente eleito Lula cumprimenta aliado, segurando sua mão, no palco do CCBB, sede do governo de transição - Metrópolesfoto-lula-ccbb-sede-transicao-cumprimenta-aliado-10112022

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva (PT)Rafaela Felicciano/Metrópoles

Guido Mantega com caneta na mão / MetrópolesGuido Mantega / (Antônio Cruz/Agência Brasil) Metrópoles

Guido Mantega, ex-ministro da FazendaAntônio Cruz/Agência Brasil

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Lula (PT) durante evento em BrasíliaVinícius Schmidt/Metrópoles

Imagem colorida com Lula de olhos vermelhos chorando durante evento no CCBB - Metrópolesfoto-10-lula-chega-a-sede-transicao-ccbb-primeira-vez-10112022

Lula chora durante evento no CCBB Rafaela Felicciano/Metrópoles

Publicidade do parceiro Metrópoles 2Imagem colorida mostra Luiz Inácio Lula da Silva, presidente eleito, em pé em um palco. Ele usa terno e segura um microfone - Metrópolesfoto-9-lula-chega-a-sede-transicao-ccbb-primeira-vez-10112022

Lula se emocionou no discursoRafaela Felicciano/Metrópoles

Lula em coletiva no tse

Presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva, acompanhado de autoridades, concede entrevista coletiva após reunião com o presidente do TSE Alexandre de MoraesBreno Esaki/Especial Metrópoles

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Questionado sobre as cobranças do mercado na mesma entrevista, Mantega foi fiel à tática de não detalhar os planos de metas do novo governo, mas atacou o teto de gastos criado pelo governo de Michel Temer (MDB) após o impeachment de Dilma.

“Tem de dar flexibilidade para o governo. O teto de gastos colocou uma camisa de força na economia brasileira, o que explica o crescimento pífio”, criticou ele, que falou sobre a possibilidade de diferentes regras fiscais para gastos sociais e para o salário mínimo.

PEC adiada foi sinalização positiva

Um dos motivos para a recuperação parcial do mercado nesta sexta foi a informação de que o envio para o Congresso da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição foi adiado para a próxima semana. A percepção dos analistas foi de que a equipe de transição não está fechada a críticas e pretende negociar.

Ainda na quinta, o relator-geral do Orçamento 2023, Marcelo Castro (MDB-PI), confirmou que o governo eleito vai retirar o pagamento do Auxílio Brasil — que voltará a ser Bolsa Família — do teto de gastos para torná-lo permanente. A expectativa, portanto, é de que o benefício seja mantido em R$ 600 mensais.

O senador eleito Wellington Dias (PT-PI), coordenador da área de Orçamento na equipe de transição, adiantou que, após as reuniões e sugestões recebidas ao longo da semana, o texto deve passar por revisões e será finalizado somente depois do aval de Lula.

Mais sobre o assunto

O presidente eleito, aliás, pretende ganhar tempo para estudar mais o cenário e vai usar como estratégia sua viagem ao Egito, neste sábado (12/11), para participar da 27ª Cúpula das Nações Unidas para as Mudanças Climáticas (COP27), no Egito.

Lula quer levar o debate para a política internacional e para a agenda ambiental. As reuniões bilaterais que já alinha com chefes de Estado e com o secretário-geral da ONU devem ajudar o futuro presidente a ocupar o noticiário, mas nem no Egito ele vai escapar de perguntas dos jornalistas sobre política econômica local.

Para frustração do mercado, porém, o mais provável é que se Lula vá anunciar algum ministro ou ministra, possivelmente na área do Meio Ambiente, que tem, como uma das cotadas, a deputada federal eleita Marina Silva (Rede-SP). Ela fez parte da coalização de Lula no segundo turno e já está na COP27.

Coordenador da transição, o vice-presidente eleito Geraldo Alckmin (PSB) voltou a São Paulo, onde ainda mora, na quinta e não deve voltar a Brasília antes do meio da próxima semana, o que também faz parte da estratégia de baixar um pouco o volume da pressão política em cima da equipe. Para Lula e seus aliados, a pressa é inimiga.

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