PT organiza transição e negocia para ter maioria no Congresso em 2023

PT organiza transição e negocia para ter maioria no Congresso em 2023

Apesar de planejarem uma suavização do discurso, os petistas estão se preparando para dois meses de instabilidade política e resistência dos bolsonaristas mais radicais em aceitar o resultado das urnas, sobretudo após o presidente evitar desmobilizar a militância no primeiro pronunciamento que fez após a eleição, nessa terça (1°/11).

A transição entre os governos começa oficialmente na quinta-feira (03/11), após o feriado. O escolhido pela chapa vencedora para coordenar o processo será o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin (PSB), que deverá trabalhar em conjunto com a presidente nacional do PT, deputada federal reeleita Gleisi Hoffmann, e o ex-ministro Alozio Mercadante.

A ideia é começar a transição focando no acesso a dados do governo federal e sem pressa para anunciar nomes de ministros, até porque essa articulação passa pela prioridade do governo eleito no momento, que é buscar uma maioria no Congresso no ano que vem.

Gleisi é quem está liderando essa frente. A deputada já está negociando com lideranças que são aliados em potencial, como o presidente do MDB, Baleia Rossi. Apesar de uma ala do partido estar chateada com o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), por ele ter chamado o ex-presidente Michel Temer (MDB) de golpista, há muitos emedebista que apoiam Lula abertamente, incluindo a senadora Simone Tebet, que foi candidata a presidente pela legenda.

A conversa também já está avançada com o PSD, cujo presidente, Gilberto Kassab, já adiantou que deve fazer parte da base aliada no plano federal. Outros partidos que não estão na base de Bolsonaro hoje, como Cidadania, União Brasil e PSDB, também serão chamados pelos petistas para conversar.

Mais sobre o assunto

As negociações ainda estão começando, mas têm chances altas de sucesso na opinião do especialista Mario Braga, analista de riscos políticos da consultoria internacional Control Risks, para quem os grupos políticos deverão se adaptar ao resultado da eleição presidencial. “Diferente do que foi falado após o resultado do primeiro turno, não acho que exista o risco de Lula começar seu mandato incapacitado de governar por falta de apoio no Congresso. Acredito que ele vá conquistar uma base grande o suficiente para aprovar legislações”, afirmou ele, em entrevista ao Metrópoles.

“Como sabemos, os políticos do Centrão são pragmáticos em sua maioria e deverão ser receptivos a negociações envolvendo espaço e cargos”, aposta ele, que acha que isso deve ocorrer mesmo em partidos que elegeram bolsonaristas mais ideológicos.

Como consequência da frente ampla que vem montando desde a campanha, Lula também deverá mostrar um perfil mais pragmático do que radical ao começar a governar, avalia Braga. “Esperamos um pragmatismo principalmente do ponto de vista econômico. Isso não significa que o novo governo vá abandonar promessas. Deverá haver um foco no combate à pobreza, mas imaginamos que o gasto social será conciliado com algum nível de responsabilidade fiscal”, afirma ele, que aposta no cumprimento da promessa de campanha de revogar o Teto de Gastos criado no governo Temer e “driblado” na gestão Bolsonaro.

“Ainda não sabemos que regra o governo Lula vai adotar, mas aposto em uma regra que permita gastos públicos, mas que tenha regras visando estabilizar a dívida pública no longo prazo”, completa o analista de risco, cuja empresa tem entre seus clientes investidores estrangeiros.

O presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva (PT), durante encontro com o presidente da Argentina, Alberto Fernández, no Hotel InterContinental, região central de São Paulo. Na foto os dois sorriem com as mãos dadas para fotos - Metrópolesfoto-4-presidente-eleito-lula-encontra-presidente-argentina-alberto-fernandes-hotel-sp-31102022

Lula e Alberto FernándezFábio Vieira/Metrópoles

Cercado por ministros e aliados jair Bolsonaro faz pronunciamento aos brasileiros - Metrópolesfoto-12-bolsonaro-faz-pronunciamento-a-nacao-apos-derrota-eleicoes-planalto-df-01112022

Bolsonaro faz primeiro pronunciamento após segundo turno das eleiçõesHugo Barreto/Metrópoles

Publicidade do parceiro Metrópoles 1Lula em discurso na PaulistaLula em discurso na Paulista

Lula em discurso na PaulistaReprodução

Foto de uma pista com vários veículos e um carro saindo fumaçaManifestação-contra-Lula-Rodoviária-DF

Manifestação de bolsonaristas insatisfeitos com a derrotaDivulgação/ PRF

Publicidade do parceiro Metrópoles 2Luiz Inacio Lula da Silva abraça a sua esposa Janja após pronunciamento de vitoria - MetrópolesLuiz Inacio Lula da Silva (PT), faz o pronunciamento de vitoria, apos a apurac?a?o do segundo turno das eleic?o?es 2022 7

Lula acompanhado de aliadosFábio Vieira/Metrópoles

Cercado por ministros e aliados, Jair Bolsonaro faz pronunciamento aos brasileiros após derrota nas eleições, no Palácio do Planalto - Metrópoles - Metrópolesfoto-19-bolsonaro-faz-pronunciamento-a-nacao-apos-derrota-eleicoes-planalto-df-01112022

Bolsonaro em pronunciamentoRafaela Felicciano/Metrópoles

0

Instabilidade no horizonte

Enquanto planejam o futuro, os vencedores da eleição não deixam de olhar com preocupação para movimentações políticas do presente, como a mobilização de bolsonaristas radicalizados que têm feito bloqueios em rodovias desde o domingo da eleição (30/10).

Para o analista de risco Mario Braga, a chance de instabilidade política por causa da insatisfação dos perdedores é uma realidade, mas não a ponto de trazer riscos de ruptura institucional. “Essa mobilização com os caminhoneiros já estava no nosso radar, era uma das opções que Bolsonaro tinha para questionar o resultado. E ainda que não tenha tanto alcance assim, é um problema com capacidade para gerar impacto operacional forte, sobretudo se demorar. Já temos fábricas suspendendo turnos e cidades à beira do desabastecimento de combustível”, afirma ele.

“E, para além dos caminhoneiros, há ainda a chance que o bolsonarismo radical consiga promover episódios de insubordinação nas polícias. Esses dois ingredientes, porém, não são suficientes para trazer riscos institucionais. Faltam elementos que seriam fundamentais para o sucesso, como o apoio de pelo menos parte do Judiciário e do poder político, coisas que Bolsonaro não conseguiu. O Judiciário tem se mantido resiliente e o universo político foi rápido em reconhecer a vitória de Lula, impossibilitando qualquer construção de um discurso de ruptura”, conclui Braga.