Bolsonaro foi derrotado, mas bolsonarismo seguirá forte em 2023

Bolsonaro foi derrotado, mas bolsonarismo seguirá forte em 2023

A vitória de Lula foi confirmada pela Justiça Eleitoral às 19h57 desse domingo (30/10), quando 98,81% das urnas já tinham sido apuradas. Àquela altura, o petista tinha 50,83% dos votos válidos (59.563.912), não podendo mais ser ultrapassado por Bolsonaro, que acumulava 49,17% (57.627.462) dos votos.

Mesmo com o fracasso de não ter conseguido se reeleger, Bolsonaro deve seguir no debate público e o bolsonarismo deve ter, ainda assim, um papel de protagonismo na oposição a partir do ano que vem, segundo especialistas ouvidos pelo Metrópoles.

No Congresso Nacional, a força política de extrema direita terá um papel importante. O próprio PL, partido do Centrão e pelo qual Bolsonaro disputou a reeleição, terá a maior bancada do Parlamento, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado Federal.

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Durante a campanha, o agora presidente eleito disse que o bolsonarismo seguiria existindo mesmo sem Bolsonaro na Presidência. Segundo Lula, é necessário derrotar o movimento “no debate político” e na “discussão sadia”.

Frase dita pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, na reta final das eleições sintetiza a força política que o bolsonarismo ganhou nos últimos anos: “Se Lula vencer, em quatro anos Bolsonaro volta”.

“Quanto figura política, Bolsonaro vai continuar sendo uma uma figura relevante. Obviamente que ele não vai ter a imunidade parlamentar que sempre teve. Então, talvez ele vai ter que cuidar mais da forma como se comunica. Mas ele vai ser o o grande representante dessa direita que surgiu nos últimos anos”, explica Rodolfo Tamanaha, professor de ciências políticas do Ibmec Brasília.

“Considerando, inclusive, que o Congresso tem uma base de parlamentares que são bolsonaristas ou próximos ao Bolsonaro, essa temática vai estar em evidência e vai exercer, sim, um protagonismo”, complementa o docente.

Outra chave para manter o bolsonarismo em evidência é por meio dos governadores que se vincularam politicamente a Bolsonaro durante as eleições deste ano. Dos 27 governadores eleitos e reeleitos, 13 declararam apoio ao presidente derrotado ou já era aliados de longa data de Bolsonaro, entre eles Tarcísio de Freitas (Republicanos), que conquistou o governo de São Paulo.

Mesmo derrotado para o Planalto, PL de Bolsonaro elege dois governadores

Para Tamahana, alguns governadores eleitos devem aproveitar o governo petista para se “cacifar” para as próximas eleições presidenciais, em 2026.

“Talvez esse seja exatamente o espaço em que governadores como Romeu Zema, de Minas, ou Ibanais Rocha, do DF, podem ter espaço como uma oposição ao governo petista, podendo até ascender como uma possível alternativa à direita que não seja Bolsonaro. Alguns vão manter essa relação de oposição ao governo lulista para, justamente, se cacifar como um nome viável para as eleições presidencias”, pontua o professor de ciências políticas.

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Jair Messias Bolsonaro, nascido em 1955, é um capitão reformado do Exército e político brasileiro. Natural de Glicério, em São Paulo, foi eleito 38º presidente do Brasil para o mandato de 2018 a 2022Reprodução/Instagram

Jair Bolsonaro, atual presidente do Brasil para o mandato de 2018 a 2022. Ele tem cabelos curtos, pretos e usa camiseta clara - Metrópoles***Foto-bolsonaro-presidente-do-brasil-2018-a-2022 (13)

Descendente de italianos e alemães, Bolsonaro recebeu o primeiro nome em homenagem ao jogador Jair Rosa Pinto, do Palmeiras, e o segundo, Messias, atribuído por Olinda Bonturi, mãe do presidente, a Deus, após uma gravidez complicada. Na infância, era chamado de Palmito pelos amigosHugo Barreto/Metrópoles

Publicidade do parceiro Metrópoles 1Jair Bolsonaro, atual presidente do Brasil para o mandato de 2018 a 2022. Ele tem cabelos curtos, pretos e usa terno e gravata - Metrópoles***Foto-bolsonaro-presidente-do-brasil-2018-a-2022 (4)

Ingressou no Exército aos 17 anos, na Escola Preparatória de Cadetes. Em 1973, foi aprovado para integrar a Academia Militar de Agulhas Negras (Aman), formando-se quatro anos depoisRafaela Felicciano/Metrópoles

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Dentro do Exército, Bolsonaro também integrou a Brigada de Infantaria Paraquedista, serviu como aspirante a oficial no 21º e no 9º Grupo de Artilharia de Campanha (GAC), cursou a Escola de Educação Física do Exército, serviu no 8º Grupo de Artilharia de Campanha Paraquedista e, em 1987, cursou a Escola de Aperfeiçoamento de OficiaisGetty Images

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Em 1986, Jair foi preso por 15 dias, enquanto servia como capitão, por ter escrito um artigo para a revista Veja criticando o salário pago aos cadetes da Aman. Contudo, dois anos após o feito, foi absolvido das acusações pelo Superior Tribunal Militar (STM)Rafaela Felicciano/Metrópoles

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Em 1987, novamente respondeu perante o STM por passar informação falsa à Veja. Na ocasião, o até então ministro do Exército recebeu da revista um material enviado pelo atual presidente sobre uma operação denominada Beco Sem Saída, que teria como objetivo explodir bombas em áreas do Exército como protesto ao salário que os militares recebiamRafaela Felicciano/Metrópoles

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A primeira investigação realizada pelo Conselho de Justificação Militar (CJM) concluiu que Bolsonaro e outros capitães mentiram e determinou que eles deveriam ser punidos. O caso foi levado ao Superior Tribunal Militar, que, por outra vez, absolveu os envolvidos. De acordo com uma reportagem da Folha à época, foi constatado pela Polícia Federal que, de fato, a caligrafia da carta enviada à Veja pertencia a JairJP Rodrigues/Metrópoles

Jair Bolsonaro, atual presidente do Brasil para o mandato de 2018 a 2022. Ele está ao lado da esposa Michelle Bolsonaro - Metrópoles***Foto-Bolsonaro-e-michele-bolsonaro

Em 1988, Bolsonaro foi para a reserva do Exército, ainda com o cargo de capitão, e, no mesmo ano, iniciou a carreira política. Em 1988, foi eleito vereador da cidade do Rio de Janeiro e, em 1991, eleito deputado federal. Permaneceu como parlamentar até 2018, quando foi eleito presidente da RepúblicaDaniel Ferreira/Metrópoles

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Durante a carreira, Bolsonaro se filiou a 10 legendas: Partido Democrata Cristão (PDC), Partido Progressista Reformador (PPR), Partido Progressista Brasileiro (PPB), Partido da Frente Liberal (PFL), Partido Progressistas (PP), Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), Democratas (DEM), Partido Social Cristão (PSC), Partido Social Liberal (PSL) e, atualmente, Partido Liberal (PL)Rafaela Felicciano/Metrópoles

Jair Bolsonaro, atual presidente do Brasil para o mandato de 2018 a 2022. Ele está ao lado dos filhos Eduardo Bolsonaro, Flávio Bolsonaro e Carlos Bolsonaro - Metrópoles***Foto-jair-bolsonaro-eduardo-bolsonro-carlos-bolsonaro-e-flavio-bolsonaro

É casado com Michelle Bolsonaro, 40 anos, e pai de Laura Bolsonaro, 11, Renan Bolsonaro, 24, Eduardo Bolsonaro, 38, Carlos Bolsonaro, 39, e Flávio Bolsonaro, 41, sendo os três últimos também políticosInstagram/Reprodução

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Em 2018, enquanto fazia campanha eleitoral, Jair foi vítima de uma facada na barriga. Até hoje o atual presidente precisa se submeter a cirurgias por causa do incidenteIgo Estrela/Metrópoles

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Eleito com 57.797.847 votos no segundo turno, Bolsonaro coleciona polêmicas em seu governo. Além do entra e sai de ministros, a gestão de Jair é acusada de ter corrupção, favorecimentos, rachadinhas, interferências na polícia, ataques à imprensa e a outros poderes, discurso de ódio, disseminação de notícias faltas, entre outrosAlan Santos/PR

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Programas sociais, como o Vale-gás, Alimenta Brasil, Auxílio Brasil e o auxílio emergencial durante a pandemia da Covid-19, foram lançados para tentar ajudar a elevar a popularidade do atual presidenteRafaela Felicciano/Metrópoles

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De olho na reeleição em 2022, Bolsonaro se filiou ao Partido Liberal (PL). O vice de sua chapa nas eleições deste ano é o general Walter Braga NettoIgo Estrela/Metrópoles

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PL pragmático e Lula

Apesar das estratégias que podem ser usadas para manter o bolsonarismo em evidência, especialistas ouvidos pelo Metrópoles alertam para o pragmatismo do Partido Liberal, que é uma sigla do Centrão. No governo Lula, há chance de que políticos eleitos pela sigla componham uma base para o petista.

Rodolfo Tamanaha lembra que partidos do Centrão, como PL, Republicanos e PSC, integraram a base de outras gestões do petista. “Eu não tenho dúvida que, novamente, o Centrão vai buscar uma composição com o Lula para poder ocupar cargo. Essa é a característica do Centrão desde sempre e eu não vejo razão para que eles deixem de negociar com o governo Lula por conta de uma adesão ideológica do Bolsonaro”, afirma.

Na mesma linha, Eduardo Galvão, analista político e professor de Relações Institucionais do Ibmec Brasília, diz que a negociação de parlamentares do centro com o governo petista será necessária para “construir consensos”.

“O que a gente percebe é que esses partidos, PL, PP, são bastante pragmáticos e até, como outras pessoas dizem, fisiológicos. Então, haverá uma acomodação de interesses, haverá uma negociação. Essa parte mais pragmática da direita vai negociar porque teremos um Brasil para governar e é necessário que as forças políticas componham uma base entre si para construir consensos”, explica Galvão.

Guilherme Casarões, por outro lado, diz que existem políticos pragmáticos, mas que a influência de Bolsonaro para viabilizar a eleição de deputados federais vai fortalecer os laços do bolsonarismo.

“Governadores, por exemplo, podem ser mais pragmáticos ao lidar com certas questões e podem até conciliar com Lula, mas a bancada federal bolsonarista não tem razão nenhuma para compactuar com o governo. Eu acho que a grande resistência ideológica do bolsonarismo vai estar na Câmara dos Deputados”, ressalta o cientista político.