Entidades acusam governo de esconder avanço do coronavírus entre indígenas

Entidades acusam governo de esconder avanço do coronavírus entre indígenas

Esse abismo se explica pelo fato de o governo computar apenas casos entre os indígenas que vivem em aldeias dentro de reservas reconhecidas. Segundo dados oficiais, porém, não chega a 60% o número de indígenas nessa situação. O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) registrou em 2010 (último dado disponível) que 517 mil (57,7%) das 896 mil pessoas que se declaravam indígenas estavam em aldeias.

"É um racismo institucional não contabilizar esses indígenas que estão no contexto urbano", frisa Nyg Kaingang, que vive na Terra Indígena Apucaraninha, no interior do Paraná, com mais 2.100 pessoas.

"Estar na cidade não significa que não é indígena. Além disso, muitos estudantes indígenas ficaram presos nas cidades para cumprir o protocolo de não entrar nas aldeias. Os contextos são muitos e esse recorte é uma forma de minimizar o drama do coronavírus", completa Nyg, que participa da Apib e vem buscando formas de denunciar o avanço da Covid-19 entre o seu povo.

Coordenadora da Apib, Sônia Guajajara, que foi candidata a vice-presidente do Brasil na chapa de Guilherme Boulos (PSol), denuncia o caso de Manaus, onde viviam, segundo ela, 40% dos indígenas mortos por coronavírus no estado.

Para a Secretaria Especial de Saúde Indígena (Sesai), do Ministério da Saúde, porém, são apenas dois óbitos computados em Manaus.

O Metrópoles questiona o Ministério da Saúde desde a semana passada sobre as razões para a não inclusão dos indígenas não aldeados nas estatísticas, mas não recebeu resposta até a publicação desta reportagem.

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No estado mais indígena do país, o Amazonas, a falta de UTIs para pacientes em geral de Covid-19 continua preocupando, pois só há respiradores na capital, Manaus, e as distâncias são longas.

Em São Gabriel da Cachoeira, a 852 quilômetros de Manaus, no Alto do Rio Negro, indígenas têm cobrado a construção de um hospital de campanha. A cidade, que conta com o maior número de indígenas, é a sexta mais afetada pelo coronavírus no estado. Até o dia 29 de maio, os dados apontavam 741 contaminados e 21 mortes em decorrência da doença.

Segundo o Comitê de Enfrentamento e Combate à Covid-19 em São Gabriel da Cachoeira, pelo menos 13 indígenas estão entre os mortos. Para a Sesai, porém, são três óbitos de indígenas por coronavírus calculados em todo Alto do Rio Negro.

Os ex-ministros da Saúde Luiz Henrique Mandetta e Nelson Teich chegaram a anunciar hospitais de campanha exclusivos para os indígenas no Amazonas, mas a promessa foi cumprida de maneira apenas parcial.

Foi inaugurada, na última terça (26/05), a primeira ala médica exclusiva para indígenas com Covid-19.

O setor é parte do Hospital Nilton Lins, inaugurado em 18 de abril, com 95 leitos para tratamentos de pacientes com coronavírus. A ala indígena terá 53 leitos; sendo 33 clínicos, 15 UTIs e 5 unidades de cuidados intermediários, segundo o Ministério da Saúde.

Entre as diferenças para as demais alas, estão a existência de redes nos quartos e de um espaço de espiritualização destinado aos pajés.

Veja um quarto:

Inauguração da Ala Indígena no Hospital Nilton Lins, em Manaus
Inauguração da Ala Indígena no Hospital Nilton Lins, em Manaus

Ao inaugurar a ala, o governador amazonense, Wilson Lima (PSC), admitiu a subnotificação da Covid-19 entre os povos indígenas. "De fato, em algum momento, tivemos dificuldade de fazer a contabilização e essa é uma preocupação dos indígenas, porque muitos deles chegavam nas unidades e não eram diferenciados e colocados ali como indígenas", disse, segundo a agência de comunicação do governo.

"Eu já determinei a todas as unidades que investiguem se é indígena ou não. E aqui faço um apelo aos representantes indígenas: quando um indígena chegar numa unidade de saúde, que ele se identifique e faça questão que seja registrado, para que a gente possa ter um controle maior dessa situação", salientou.

pessoa de máscara em preto e brancocoronavírus, máscara

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