David se omite e Wilson faz de Manaus o centro de irradiação do coronavírus

David se omite e Wilson faz de Manaus o centro de irradiação do coronavírus

Com razão, o prefeito de Manaus, David Almeida, manifestou preocupação com o novo decreto do governo do Amazonas que flexibilizou a abertura do comércio não essencial em um momento critico da pandemia, em que as Utis estão lotadas, há fila de espera por um leito e as vacinas não chegam no ritmo esperado. Mas David negligencia em um ponto fundamental: é dele e não do governador a prerrogativa de permitir ou não o funcionamento do comércio no município de Manaus. E se abre mão dessa prerrogativa, não pode se vitimizar. Sua flagrante omissão, entretanto, vitimiza duplamente a cidade e seus habitantes, tão duramente atacados por um vírus que já matou mais de 6 mil manauaras.

No mínimo - se de fato está preocupado com uma eventual terceira onda de coronavírus - deveria exigir a formação de um comitê composto por autoridades do governo Estadual, do Município, Ministério Público, Defensoria Pública e infectologistas para que decisões personalistas e altamente nocivas à sociedade, como a adotada pelo governador Wilson Lima, não se repitam.

Convenhamos, Wilson Lima não pode ignorar a figura do prefeito neste caso. Decisões sobre confinamento em razão da pandemia devem ser discutidas e compartilhadas com a prefeitura.

David diz não concordar com a flexibilização no nível que foi adotada pelo novo decreto, mas se omite. Só há ônus a ser colhido e David parece pouco se importar com os erros da medida. A aceita passivamente, mas se queixa que é contra e aponta riscos, que de fato existem.

O prefeito quer exemplos? Todos os atos de restrição nesse período de pandemia nas grandes cidades - São Paulo e Porto Alegre, por exemplo - tiveram a chancela dos prefeitos, o que revela que David não tem, ainda, noção de seu papel, nem tomou conhecimento da decisão do Supremo Tribunal Federal que garantiu plena autonomia a Estados e municípios a adotarem normas de combate ao vírus.

Dizer que lhe cabe apenas a tarefa de fechar balneários e parques é de uma falta de noção sem tamanho.

David pode ficar menor do que já está se não assumir o papel de, como prefeito, defender a sociedade dos decretos personalistas de um governador que é sabidamente pouco responsável.

David tem poder legal para interferir. Pode seguir o exemplo do Rio Grande do Sul, onde o governador estabeleceu fechamento de 15 dias para o comércio, mas a prefeitura baixou decreto estabelecendo um prazo maior, de 30 dias, com base no argumento de que a medida era necessária para conter o vírus e preservar a vida dos gaúchos.

Não vamos mais ensinar o caminho das pedras para um prefeito que se distanciou da sociedade, sob o risco de uma avalanche o atingir?