Militância bolsonarista tenta se reorganizar, mas espera sinais do líder
O silêncio adotado por Bolsonaro desde sua derrota na eleição presidencial, no final de outubro do ano passado, desarticulou uma comunicação digital com histórico de sucesso desde antes da vitória dele na eleição de 2018. Sem a presença constante de Bolsonaro em lives e fazendo postagens polêmicas contra adversários em seus perfis, caiu o engajamento em grupos e em canais dos principais influenciadores digitais do bolsonarismo.
Sem uma liderança que dê instruções, a oposição da militância bolsonarista ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) não tem conseguido avançar para além da ironia de provocar os adversários com o slogan “Faz o L” quando há notícias negativas sobre o governo e cobrar a promessa lulista da volta do churrasco com picanha ao cotidiano dos brasileiros.
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Bolsonaro, porém, ainda não se mostra disposto a exercer esse papel de liderança. Após um retorno que, com muito controle policial e presença abaixo da esperada de militantes, não foi apoteótico como aliados esperavam, o ex-presidente segue quieto. Sem poder ser recepcionado no saguão do Aeroporto de Brasília, Bolsonaro apenas acenou para as poucas dezenas de militantes que foram até a sede do PL em Brasília para festejá-lo – e não discursou aos apoiadores, tendo falado apenas com os aliados de partido.
No dia seguinte à volta, na sexta-feira (31/3), os perfis de Bolsonaro nas redes sociais, onde ele segue contando com o patrimônio de milhões de seguidores, não apresentaram nada de novo ou original, se resumindo a manter a política de divulgar ações antigas de seu governo. Assunto do dia na direita, o aniversário do golpe militar de 1964, tema caro ao ex-presidente, foi ignorado em seus perfis.
Veja postagem feita pelo perfil do presidente em 31 de março:
Mais descanso
Após três meses de descanso nos Estados Unidos, onde participou de poucos compromissos políticos e apareceu mais cumprimentando fãs que apareciam em frente à casa onde esteve hospedado, Bolsonaro deve repousar um pouco mais.
Reportagem do Metrópoles publicada na última semana informou que o ex-presidente do país deve passar os próximos dias recolhido com a família. A única ideia de evento político que circula entre seus aliados é a possibilidade da realização de uma motociata, mas não há data para isso nem consenso sobre a viabilidade da iniciativa.
Nos bastidores, políticos aliados do ex-presidente tentam organizar com ele uma estratégia voltada a combater o governo Lula e criar condições para fortalecer candidatos de seu campo político para as eleições municipais de 2024.
Bolsonaro, porém, não mostrou grande interesse nas articulações e no momento estuda como lidar com uma crise latente em seu partido entre bolsonaristas raiz e políticos mais pragmáticos. Seu maior esforço até agora foi no sentido de desestimular a ideia de preparar sua esposa, Michelle Bolsonaro, para a disputa de cargos eletivos.
“Com todo respeito, a senhora Michelle não tem essa vivência para enfrentar uma batida dessa”, disse Bolsonaro na fala na sede do PL, frustrando os planos do presidente do partido, Valdemar Costa Neto, que nomeou a ex-primeira-dama como presidente do PL Mulher e articulou uma agenda de viagens dela pelo país – que até agora não tem data certa para acontecer.
Veja exemplos da movimentação nas redes bolsonaristas após a volta do ex-presidente ao país:
aboborajoiasPicanhaRedes bolsonaristas 1 golpe militarredes bolsonaristas golpe 2zambelli lula0Assunto das joias é pedra no sapato
Os efeitos positivos da volta de Bolsonaro ao Brasil para sua militância são eclipsados pelas notícias negativas relativas ao recebimento de presentes milionários pelo ex-presidente que foram mantidos por ele em seu acervo pessoal – o que está gerando investigações.
A Polícia Federal, por exemplo, concluiu que há “indícios concretos” do envolvimento do ex-presidente nas tentativas de membros do antigo governo em reaver o conjunto de joias avaliadas em R$ 16 milhões recebidas de presente da Arábia Saudita e retidas pela Receita Federal. Outros três conjuntos de joias que estavam com Bolsonaro foram requisitados pelo Tribunal de Contas da União (TCU) e o ex-presidente terá de depor sobre o tema.
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