Apesar de reproduzirem falas protocolares, as conversas com chefes de Estado convergiram sobre temas como estreitamento das relações diplomáticas entre os países, o retorno do Brasil à cena internacional — a partir da presença em fóruns regionais e cúpulas multilaterais —, e a priorização da agenda climática.
O presidente da Argentina, Alberto Fernández, defendeu que enxerga o presidente Lula como um “líder regional”, e celebrou o retorno do petista ao governo como um sinal de que o país também retornará aos fóruns regionais e dará impulso à América Latina.
Aliado do petista, o argentino afirmou que os últimos quatro anos sob o governo de Jair Bolsonaro (PL) representaram um momento difícil para as relações entre os dois países, mas que isso está superado.
“Argentina e Brasil são dois países indissoluvelmente unidos, e nenhum momento político pode perturbar isso”, disse Fernández à imprensa, após a reunião. Ele também confirmou a visita oficial do mandatário brasileiro a Buenos Aires, no próximo dia 23 de janeiro.
Pela manhã, o presidente brasileiro abriu a agenda com um encontro com o rei da Espanha, Felipe VI. Em seguida, ele se reuniu com os presidentes da Bolívia, Luis Arce; de Guiné Bissau, Umaro Sissoco Embaló; e do Equador, Guillermo Lasso; além de Fernández.
Durante a tarde, Lula teve encontros bilaterais com o vice-presidente da China, Wang Qisha, o presidente da Colômbia, Gustavo Petro; e o presidente do Chile, Gabriel Boric. Mais tarde, ele conversou com Marcelo Rebelo de Sousa, de Portugal, a presidente de Honduras, Xiomara Castro e representantes do governo de Gabão.
Questão da Venezuela
O presidente do Chile, Gabriel Boric, destacou temas como o fortalecimento da democracia, o combate a fake news e a defesa da ciência como prioridades em comum entre os dois países. O líder chinelo defendeu, durante a conversa com Lula, a reinserção da Venezuela no cenário multilateral.
“Para encontrar soluções, é importante se reincorporar aos circuitos multilaterais. Os problemas não se resolvem isolando os países, e sim reincorporando-os e fortalecendo a democracia”, defendeu.
Segundo Boric, ele e Lula debateram como podem colaborar para que, em 2024, a Venezuela tenha um processo eleitoral “plenamente legítimo”. “O atual governo [venezuelano] terá que entrar em um acordo com todos os setores da sociedade”, concluiu.
O líder chileno também adiantou que as duas nações trabalham para a elaboração de um mecanismo comum de fortalecimento socioeconômico, bem como uma política de proteção ambiental — para frear o desmatamento na Amazônia e o derretimento das geleiras chilenas.
Amazônia e tráfico de drogas
O colombiano Gustavo Petro afirmou que ele e Lula fizeram um “pacto para salvar a Floresta Amazônica”. Segundo o chefe de Estado, a reunião colocou em pauta temas como energia verde, preservação ambiental e política de combate ao tráfico de drogas nas fronteiras.
“Um grande pacto para salvar a selva amazônica em favor da humanidade. Rumo a uma mudança na política de drogas; um Brasil garantidor da paz na Colômbia e o estudo da interligação elétrica das Américas com fontes de energia limpa”.
Assim como Petro, o presidente da Bolívia, Luis Arce, adiantou que ele e Lula chegaram a um acordo para “aprofundar uma ampla agenda de trabalho em benefício das populações”, com foco em temas como questões de cooperação energética, fronteiriça e combate a ilícitos transnacionais.
“Hoje em Brasília nos encontramos com o novo presidente do Brasil, irmão Lula, com quem decidimos aprofundar uma ampla agenda de trabalho em benefício de nossos povos, que inclui questões de fronteira, gás, energia elétrica, ureia, investimento e comércio”.
O Brasil é o principal parceiro comercial da Bolívia, e consiste no primeiro destino das exportações bolivianas. Segundo o Itamaraty, as relações com o país são consideradas “prioritárias” para o governo brasileiro.
Guilhermo Lasso, do Equador, também destacou que o primeiro encontro com Lula girou em torno das mesmas temáticas que pautaram os encontros sul-americanos: segurança nacional, combate ao crime nas fronteiras e proteção da floresta.
“Da mesma forma, destacamos a importância de proteger a Amazônia, pulmão do planeta e importante eixo de nosso plano de governo. Concordamos com o interesse em restaurar áreas afetadas por atividades de mineração”, completou.
Prestígio internacional
Logo no início da tarde, Lula recebeu do vice-presidente da China, Wang Qishan, uma carta do presidente Xi Jinping. Segundo o presidente, a mensagem expressa “cumprimentos” e vontade de ampliar a cooperação dos países do chefe de Estado chinês.
“A China é nosso maior parceiro comercial e podemos ampliar ainda mais as relações entre nossos países”, escreveu Lula.
Marcelo Rabelo de Sousa, presidente de Portugal, defendeu que o novo governo representa a volta de um “Brasil multilateral” e o retorno do país para a “cena internacional e para as organizações”. Ele emendou que ter um governo brasileiro atuante na comunidade internacional “faz muita falta”.
Visitas oficiais
Além da viagem a Buenos Aires, na segunda quinzena de janeiro, para participar da cúpula da Comunidade dos Estados Latino-Americanos e Caribenhos (Celac), Lula tem visitas oficiais marcadas para os Estados Unidos e para a China nos três primeiros meses de governo.
Com a presença de embaixadores e presidentes, aproximadamente 120 países estavam representados na solenidade. Ao todo, 65 delegações estiveram no evento — número quase três vezes maior que o registrado na última posse presidencial, de Jair Bolsonaro (PL).
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