Moraes Inova: Defesa Arca com Testemunhas no Caso 8 de Janeiro
Decisão do STF gera polĂȘmica e levanta questões sobre isonomia processual.
O ministro Alexandre de Moraes, do STF, tem adotado uma prĂĄtica controversa nos processos relacionados aos atos de 8 de janeiro. A medida impõe às defesas dos acusados a responsabilidade de levar suas testemunhas às audiĂȘncias, sem intimação prĂ©via pelo tribunal.
Essa decisão tem gerado preocupação entre os advogados que representam os acusados pela Procuradoria-Geral da RepĂșblica (PGR) de envolvimento nos eventos que se seguiram à eleição de Lula em 2022.
A medida foi adotada após a abertura da ação penal contra o nĂșcleo central da suposta trama golpista, com a publicação do acórdão da Primeira Turma que aceitou a denĂșncia da PGR. Entre os rĂ©us, destaca-se o ex-presidente Bolsonaro e outros sete indivĂduos.
Segundo relatos ao jornal Folha de S.Paulo, alguns advogados temem que a falta de intimação oficial possa inviabilizar depoimentos cruciais para a defesa dos acusados.
"Tem-se, de fato, um tratamento desigual entre acusação e defesa, uma vez que a exigĂȘncia de apresentação de testemunhas vem pesando sobre as defesas em geral, mesmo quando indicam servidores pĂșblicos para serem inquiridos" disse o defensor Gustavo ZortĂ©a da Silva ao Supremo.
O ministro, contudo, negou o pedido de revisão do procedimento, afirmando que "as testemunhas arroladas deverão ser apresentadas pela defesa em audiĂȘncia, independentemente de intimação".
A regra, segundo as decisões que abrem as ações penais relacionadas ao 8 de janeiro, determina que as testemunhas da defesa compareçam no mesmo dia do depoimento do rĂ©u, sem necessidade de intimação, e sejam ouvidas antes do acusado. Moraes tambĂ©m veta o depoimento de testemunhas meramente abonatórias, determinando que seus depoimentos "deverão ser substituĂdos por declarações escritas, atĂ© a data da audiĂȘncia de instrução".
Apesar dessa postura nos processos relacionados ao 8 de janeiro, Moraes autorizou recentemente a intimação de testemunhas em outra ação penal, sem ligação com os atos na Praça dos TrĂȘs Poderes. Trata-se do processo contra o deputado João Carlos Bacelar (PL-BA), acusado de peculato.
As defesas da maioria dos rĂ©us do 8 de janeiro jĂĄ apresentaram listas de testemunhas ao STF. Por exemplo, Sebastião Coelho, advogado do ex-assessor da PresidĂȘncia Filipe Martins, listou 29 testemunhas, que incluem o próprio Alexandre de Moraes e seu ex-assistente no TSE, Eduardo Tagliaferro.
A PGR, por sua vez, indicou seis testemunhas para todos os acusados: o ex-comandante do ExĂ©rcito Marco Antônio Freire Gomes, o ex-chefe da AeronĂĄutica Carlos Baptista Junior, Ăder Balbino (empresĂĄrio que colaborou com relatório do PL contra as urnas), o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha, e os ex-integrantes do MinistĂ©rio da Justiça e da inteligĂȘncia da PRF Clebson Vieira e Adiel Pereira Alcântara.
O Código de Processo Penal, em seu artigo 401, estabelece que cada parte pode indicar atĂ© oito testemunhas. Contudo, esse nĂșmero pode ser ampliado pelo juiz, a depender da complexidade do caso e do nĂșmero de rĂ©us e crimes investigados.
*Reportagem produzida com auxĂlio de IA