Dólar chega a atingir R$ 5,70 após falas de Lula e riscos fiscais; Ibovespa reverte ganhos
O dólar acelerava sua alta frente ao real nas negociações desta terça-feira (2) e chegou a atingir a marca de R$ 5,70 pela primeira vez desde janeiro de 2022, à medida que os investidores repercutiam novos ataques do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao Banco Central (BC) e suas promessas de controlar a alta da divisa norte-americana.
Às 14h50, o dólar à vista subia 0,64%, a R$ 5,6970 reais na venda. Na B3, o contrato de dólar futuro de primeiro vencimento avançava 0,71%, a R$ 5,7155 na venda.
Na véspera o dólar à vista havia encerrado o dia cotado a R$ 5,6538 na venda, em alta de 1,13%. Este é o maior preço de fechamento desde 10 de janeiro de 2022, quando terminou em R$ 5,6723.
Na bolsa, o Ibovespa abriu com sinal positivo, em mais uma sessão de avanço de commodities como o petróleo e o minério de ferro, o que favorecia as ações de Petrobras e Vale, assim como SLC Agrícola permanecia entre os destaques de alta.
Contudo, o principal índice brasileiro perdeu fôlego e agora opera em leve queda. No mesmo horário, o Ibovespa tinha variação negativa de 0,05%, aos 124.658,16 pontos.
Antes da abertura do mercado nesta terça-feira, em entrevista à rádio Sociedade, de Salvador, Lula disse que fará "alguma coisa" em relação à alta do dólar ante o real, mas evitou detalhar qual medida será tomada "porque senão estarei alertando meus adversários".
Lula afirmou que há atualmente um ataque especulativo ao real, acrescentando que voltará a Brasília na quarta-feira (3) e discutirá o que fazer em relação à alta do dólar.
Ele também voltou a criticar o Banco Central, dizendo que a autarquia não pode estar a serviço do sistema financeiro e do mercado.
Após o dólar abrir em baixa, a fala de Lula passou a pesar sobre os negócios ao longo da manhã e as cotações da moeda norte-americana ganharam força. Profissionais do mercado afirmaram que a possível intervenção do governo no câmbio gerava receios.
Uma das possibilidades levantadas é a de que o governo possa mexer no Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) nas operações cambiais, para segurar a escalada da moeda norte-americana.
Em Brasília, porém, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou no fim da manhã que não há possibilidade de o governo mexer no IOF. Segundo ele, a melhor maneira de conter a desvalorização do real é melhorar a comunicação sobre o arcabouço fiscal e a autonomia do BC.
Os comentários de Lula em relação ao BC nesta terça-feira somam-se às falas do presidente nos últimos dias, que vêm sendo apontadas como um dos principais motivos para que o dólar tenha disparado ante o real e para que a curva de juros esteja em forte alta no Brasil.
Em 2024, a moeda norte-americana acumula elevação próxima de 17%.
"Quem intervém no câmbio é o BC, não o ministério da Fazenda", comentou Jefferson Rugik, diretor da Correparti Corretora. "O que o presidente Lula pode fazer no câmbio é tranquilizar o mercado, dizendo que vai cortar gastos. Quando o mercado acredita que o problema é de credibilidade, ações como alterar o IOF são momentâneas", acrescentou.
Nos últimos dias, profissionais ouvidos pela Reuters têm afirmado que a acomodação do dólar ante o real passa justamente pelo fim dos ataques recorrentes de Lula ao BC e por medidas que equilibrem as contas públicas.
Alvo de Lula em suas declarações, o presidente do BC, Roberto Campos Neto, afirmou durante a manhã que a autarquia tem que ficar fora da "arena política" e argumentou que o tempo mostrará que o trabalho da autoridade monetária é técnico.
"Há um prêmio de risco na curva (de juros), e ele tem sido elevado nas últimas semanas com a incerteza sobre o que acontecerá quando a próxima liderança, o próximo time (do BC) assumir", acrescentou Campos Neto, que deixará o comando da instituição no fim de dezembro. Ele participou de evento do Banco Central Europeu (BCE) em Sintra, Portugal.
No exterior, o dólar passou a ceder ante uma cesta de moedas fortes, com o mercado avaliando declarações do chair do Federal Reserve, Jerome Powell, no mesmo evento em que Campos Neto falou. A moeda norte-americana também caía ante moedas como o peso mexicano e o peso chileno.
Às 12h29, o índice do dólar — que mede o desempenho da moeda norte-americana frente a uma cesta de seis divisas — caía 0,05%, a 105,790.