Velório de vítimas de ataque a escola reúne cerca de 1,5 mil pessoas em SC

Velório de vítimas de ataque a escola reúne cerca de 1,5 mil pessoas em SC

O velório das cinco vítimas do ataque a uma creche em Saudades (SC) foi uma mistura de consternação e indignação em um ginásio do Parque de Exposições Theobaldo Hermes. A despedida começou ainda na noite de ontem e reuniu cerca de 1,5 mil pessoas na manhã de hoje, segundo estimativa do Corpo de Bombeiros.

Ao lado dos pequenos caixões brancos das crianças estavam os pais delas que não escondiam o abalo pela perda. Choravam aos pés dos filhos, segurando suas mãos — uma das mães soluçava alto, inconformada com a partida precoce da filha.

O aposentado Audivir Stertz, 64 anos, é amigo de uma das famílias das crianças. Com dois netos, de cinco a oito anos, e esperando outros, ele se coloca no lugar dos pais das vítimas. "A gente nunca espera que isso aconteça. Aqui o pessoal é muito unido, todos se conhecem. Quando chega alguém desconhecido, a gente já desconfia."

O idoso conta que ontem voltava do interior da cidade, onde foi cortar lenha, quando foi avisado pela esposa do ocorrido. Stertz mora próximo ao hospital da cidade e foi às pressas consolar o amigo, avô de uma das crianças. "Eu nem tive coragem para ligar para ele. Fui direto."

Ontem, lojistas e moradores colocaram faixas pretas e cartazes com a palavra "luto" nas portas de estabelecimentos e casas das ruas principais da cidade. O clima é perplexidade.

Um taxista que pediu para não se identificar, relatou à reportagem que o suspeito teria ido trabalhar antes do ataque e que, no intervalo, o jovem pegou a bicicleta e foi até a escola para cometer o crime.

O taxista disse conhecer a família do suspeito, considerado como alguém calmo, e observou que o pai dele tentou tirar a vida duas vezes, sendo demovido por familiares.

Na missa, o bispo dom Odelir lamentou as perdas. "Não temos como não se solidarizar. Estamos juntos. Que essas situações não se repitam mais. A sociedade brasileira precisa de novas referências."

Além disso, o bispo fez referência às mortes pela pandemia do coronavírus. "É uma tragédia no meio da outra. No Brasil são mais de 410 mil famílias que perderam os entes queridos de forma precipitada."

O representante da Igreja Católica observou que ataques a escolas foram registrados nos Estados Unidos e em São Paulo e que não imaginava que isso fosse ocorrer em uma cidade pequena como Saudades.

"Vamos continuar lutando para que essas crianças e professoras que não sobreviveram possam nos ajudar a sonhar um mundo melhor."

Detalhes do velório

As cinco pessoas mortas no ataque ao CEI (Centro de Ensino Infantil) Pró-Aquarela, em Saudades (SC), ocorrido ontem, estão sendo veladas em uma cerimônia coletiva.

Os corpos das crianças chegaram na quadra do Parque de Exposições Theobaldo Hermes por volta das 3h da manhã, logo em seguida o da professora Keli Adriane Aniecevski, de 30 anos e da agente educacional Mirla Renner, de 20 anos.

De acordo com a prefeitura, uma cerimônia religiosa será realizada às 9h, e sequência o sepultamento das três crianças e das duas funcionárias.

Saudades tem população de cerca de 10 mil pessoas e fica na região de Chapecó, no Oeste de Santa Catarina.

Como foi o ataque à creche

De acordo com a Polícia Militar, um jovem de 18 anos armado com um facão invadiu o CEI (Centro de Educação Infantil) Pró-Infância Aquarela, em Saudades — as vítimas são três crianças e duas mulheres.

Depois, o autor do atentado tentou se matar, mas foi interrompido por populares e está internado. Ele foi levado ao Hospital Beneficente de Pinhalzinho, cidade vizinha, e depois transferido para o Hospital Regional de Chapecó. O rapaz não tem passagem pela polícia.

Segundo as investigações, a creche foi invadida por volta das 10h. O rapaz atacou inicialmente a professora Keli Adriane, que estava na entrada do prédio. Ela chegou a correr do suspeito, mas não conseguiu escapar e morreu na escola.

Após atacá-la, ele teria entrado em uma sala de aula e desferido os golpes em crianças. No local, havia quatro alunos e a auxiliar de educação Mirla Renner.

A Polícia Civil informou que duas crianças morreram no local e uma terceira veio a óbito após atendimento médico no hospital em Saudades. Todas são alunas da creche e tinham menos dois anos, confirmou o delegado Jerônimo Marçal.

Centro de Valorização da Vida

Caso você esteja pensando em cometer suicídio, procure ajuda especializada como o CVV (Centro de Valorização da Vida) e os CAPS (Centros de Atenção Psicossocial) da sua cidade. O CVV funciona 24 horas por dia (inclusive aos feriados) pelo telefone 188, e também atende por e-mail, chat e pessoalmente. São mais de 120 postos de atendimento em todo o Brasil.